O Ministério da Educação reafirmou ontem
na AR a intenção de baixar o número de alunos por turma.
Estão em análise os projectos apresentados por BE, PCP e Verdes. O calendário global e
critérios deste processo estarão dependentes de estudo em curso sendo que
também está a ser considerado o número de alunos por professor. Esta questão
sem sempre devidamente valorizada é importante pois muitos professores lidam
com muitas turmas perfazendo números acima dos 120 ou 150 alunos. Parece dispensável
explicitar as implicações negativas desta situação.
Como tantas vezes tenho afirmado
é uma medida que se justifica e que importa incentivar.
A revisão de estudos sobre esta
matéria mostra o que também conhecemos, existem vantagens em turmas com
efectivos menores que podem ser mais ou menos significativas em função das
variáveis em análise.
Parece-me de acentuar que os
estudos sugerem com clareza impacto positivo no clima e comunicação na sala de
aula, na maior facilidade de práticas educativas mais diferenciadas, no
comportamento dos alunos, etc., o que, evidentemente deve ser considerado.
Alguns estudos, apenas centrados
em resultados, não encontram diferenças significativas mas também me parece que
não são consideradas variáveis importantes, de contexto por exemplo, o que nem
sempre é tido em conta nos discursos dos economistas da educação.
É também fundamental considerar
as diferentes características dos diversos territórios educativos.
Na verdade, é necessário
considerar as diferenças de contexto, isto é, a população servida por cada
escola, as características da escola, a constituição do corpo docente, os
recursos disponíveis, etc. Importa ainda sublinhar que a qualidade e sucesso do
trabalho de professores e alunos depende de múltiplos factores, sendo que a
dimensão do grupo é apenas um, ou seja, importa considerar, vejam-se relatórios
e estudos nesta área, as práticas pedagógicas, os processos de organização e
funcionamento da sala de aula e da escola, bem como o nível de autonomia de
cada escola ou agrupamento, entre outros. Daí a importância de promover uma
autonomia real.
Aliás, com base na autonomia das
escolas poderiam ser consideradas outras opções como a presença de dois
professores em sala de aula. Em algumas circunstâncias pode ser mais vantajosa
que a redução do número de alunos por turma.
Acresce nesta matéria a
importância da qualidade do trabalho em turmas com alunos com necessidades
educativas especiais o que, evidentemente, deve ser considerado na análise do
efectivo de turma, desde logo cumprindo o que está legislado.
Diga-se ainda que é quase
dispensável referir a diferença entre trabalhar com 26 ou 28 alunos num estabelecimento
privado de acesso “protegido” ou com o mesmo número de alunos num
mega-agrupamento de uma escola pública em que um professor lida com várias
turmas, centenas de alunos ou se desloca entre escolas para trabalhar.
De acordo com a recomendação do
CNE e dentro do que entendo por verdadeira autonomia das escolas, deveriam
estas ter a competência para definir e organizar as turmas embora aceite a
existência de orientações nesse sentido.
Não só por esta razão, dimensão
das turmas e qualidade do trabalho dos alunos, de todos os alunos, e dos
professores, também me parece que deveria ser promovida uma verdadeira
desburocratização do trabalho nas escolas e promovido algum ajustamento na sua
organização e funcionamento o que certamente libertaria tempo de professores
para trabalho em turma ou em apoios que promovessem qualidade.
Sei que mudanças neste sentido
são politicamente difíceis mas parecem-me imprescindíveis. Terão custos certamente
mas os custos do insucesso e da exclusão são incomparavelmente mais caros.
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