De volta da lida e em busca de
uns textos colocados naquele arquivo onde guardamos o que iremos ler quando
tivermos tempo, se tivermos, reencontrei a referência a um estudo realizado
pelo Comité Português para a UNICEF sobre a percepção que crianças e
adolescentes têm dos tempos e das dificuldades que que viviam em 2013 e que,
apesar de melhorias importantes, não serão tão diferentes das que actualmente
enfrentamos.
O trabalho mostrava como crianças
e adolescentes têm uma percepção muito clara das dificuldades das famílias, no
impacto dessas dificuldades em variadas dimensões, incluindo nas relações
pessoais, a vida escolar e disponibilidade dos pais e, muito importante, da
ameaça para o seu futuro, por exemplo na possibilidade continuar os estudos.
Estes dados surpreendem e vale a
pena recuperar.
Os adolescentes e as crianças,
cuja imagem e competências são às vezes desconsideradas, outras vezes
idealizadas, são inteligentes e atentos, mais do algumas vezes damos conta.
Quando lhes perguntamos sobre o que está à sua volta, de uma forma geral,
revelam que percebem, sentem, as circunstâncias nas quais estão mergulhados e falam
com lucidez sobre isso. Nesta afirmação estou a incluir, como não pode deixar
de ser, crianças e adolescentes com necessidades especiais que, devido a essa
condição, ainda menos são ouvidas sobre o que lhes diz respeito.
Recordo um outro trabalho
realizado nos EUA em que crianças e adolescentes revelaram como sentem as
alterações nas relações com os pais devido ao tempo que estas passam com
tablets e smartphones.
É por questões desta natureza que
tantas vezes insisto na necessidade de falarmos, interpelarmos os mais novos.
Eles têm certamente algo para nos dizer e que, talvez, possa influenciar
decisões que acabam por os envolver mas para as quais muitas vezes não são
consideradas as suas opiniões.
Fala-se com frequência do barulho
e gritaria que os mais novos produzem.
Quero afirmar que não tenho
nenhuma visão idealizada ou ingénua de crianças e adolescentes mas algumas
vezes, refiro, com uma pontinha de provocação, que talvez só quando eles gritam
é que os ouvimos.
Dito de outra maneira, em muitas
circunstâncias eles gritam porque não os ouvimos, mostramos alguma surdez,
total ou selectiva, só ouvimos o que queremos.
A verdade, insisto, é que
crianças e adolescentes percebem, pensam e se tiverem oportunidade participam
nas decisões que os levam ao futuro. Da forma possível para cada idade,
evidentemente.
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