Segundo novo estudo da Direcção-Geral de Estatísticas da Educação hoje divulgado continua a
verificar-se a existência de escolas “simpáticas”, ou seja, escolas,
maioritariamente privadas, que atribuem notas na avaliação interna
significativamente acima dos resultados dos alunos das escolas públicas com
resultados semelhantes na avaliação externa, os exames. Como se sabe, tal situação influencia
seriamente o acesso ao ensino superior com também tem peso na classificação das
escolas. Claro!
Apesar de algum abaixamento da
discrepância nos últimos dois anos a diferença tinha vindo a aumentar bem como
a manutenção das escolas em que se verifica tal situação e que não tem a mesma
incidência em todo o país. Nada de novo.
Recordo que no Relatório do CNE,
“Estado da Educação 2014” se referia a continuidade impune do escândalo das
notas inflacionadas por escolas privadas, sobretudo no secundário e que
enviesam de forma inaceitável o acesso ao ensino superior. A situação é por
demais conhecida, as notas da avaliação interna são sistemática e
significativamente mais elevadas que as notas obtidas pelos seus alunos nos
exames nacionais. Os dados do Infoescolas logo que foram conhecidos
evidenciavam com clareza a situação.
Também se soube no final de 2016
que por proposta do grupo de trabalho nomeado pelo Governo para analisar o
processo de acesso ao ensino superior, os alunos que tenham frequentado escolas
que reconhecida e reiteradamente tenham “inflacionado” as notas da avaliação
interna com o objectivo de subir a média de candidatura poderão ver as suas
notas corrigidas automaticamente.
Não conheço o resto das propostas
mas subscrevo a necessidade de se reverter, está na moda a ideia de reversão, a
simpatia e generosidade de algumas escolas, aliás, genericamente conhecidas.
Importa registar que se no caso
das escolas “simpáticas”, as que inflacionam as notas, predominam as escolas
privadas, no caso das escolas em que os alunos obtêm melhores resultados nos
exames que nas avaliações internas predominam as públicas, ou seja, o
“facilitismo” das escolas públicas que alguns apregoam não será tão claro.
De registar ainda que
considerando as escolas que mais promovem progressão nos alunos entre o 9º e o
12º também predominam as escolas públicas.
Em tempos foi anunciado um
inquérito promovido pelo MEC em alguns estabelecimentos de que não conheço
resultados que, provavelmente, não chegaremos a conhecer.
Aliás, em muitas zonas as
escolas, privadas, sobretudo, mas também algumas públicas são
"escolhidas" pelas famílias também em função deste conhecimento.
Deve ser a isto que se chama
liberdade da educação. Aliás, curiosamente, segundo os dados de estudo da
Universidade do Porto, creio que conhecido em 2015 onde também se evidenciava a
“simpatia” de algumas escolas, é justamente nos colégios sem contrato de
associação, os que recebem “apenas” os alunos que entendem, que as notas internas
são mais “inflacionadas”, por assim dizer. O estudo também mostrou como um ou
dois valores a mais podem “valer” a entrada na universidade ou no curso que se
quer.
Os responsáveis pelas escolas em
que o “fenómeno” é mais evidente tentaram explicá-lo de formas diferentes e em
alguns aspectos até bastante curiosas, projecto pedagógico ou educativo da
instituição, entendimento diferenciado sobre o próprio papel da avaliação
interna, etc. No mesmo sentido, o Director da Associação de Estabelecimentos de
Ensino Particular e Cooperativo, sempre criativo, apresentou há meses uma
justificação em torno de "estratégias pedagógicas" que é uma peça de
antologia.
Ainda no domínio do que se passa
no âmbito das avaliações internas seria interessante verificar o que se passa
em muitos estabelecimentos privados nas disciplinas não sujeitas a exame
nacional.
No entanto, do meu ponto de vista,
afirmo-o de há muito, a questão central radica numa questão central, a
conclusão e certificação de conclusão do ensino secundário e a candidatura ao
ensino superior deveriam ser processos separados.
Os exames nacionais destinam-se,
conjugados com a avaliação realizada nas escolas, a avaliar e certificar o
trabalho escolar produzido pelos alunos do ensino secundário e que, obviamente,
está sediado no ensino secundário. Neste cenário caberiam também as outras
modalidades que permitem a equivalência ao ensino secundário, como é o caso do
ensino artístico especializado ou recorrente em que também se verificam algumas
"especificidades", por assim dizer.
Os resultados escolares do ensino
secundário deveriam constituir apenas um factor de ponderação a contemplar com
outros critérios nos processos de admissão organizados pelas instituições de
ensino superior como, aliás, acontece em muitos países.
O acesso ao ensino superior é um
outro processo que deveria ser da responsabilidade do ensino superior e estar
sob a sua tutela.
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