Ainda hoje não sei se o meu envolvimento nesta história é motivo
de orgulho ou de constrangimento. Lembro-me
dela em cada dia de S. Valentim e passou-se num tempo em que ainda não tinha
sido inventado mais este nicho de mercado
Tínhamos uns treze ou catorze
anos e dançávamos entre as coisas da escola e a descoberta dos afectos, o
bem-querer a alguém. Do grupo fazia parte o Paulo, o Pirolito já não me recordo
porquê. O Pirolito, um tipo daqueles que não se aquieta um minuto, andava
infeliz, tinha uma paixão pela Joana que, desconsolo supremo, não lhe ligava. O
Pirolito era a tristeza feita gente, então quando nos via inchados com os
nossos bem-querer, os olhos eram um espelho de mágoas.
Um dia, o Zé, que namorava, como
esta palavra nos soava bem, com a Sofia, a melhor amiga da Joana, teve uma
ideia, esquisita, achámos todos. E se através da Sofia se pedisse, no maior dos
segredos, à Joana que aceitasse o Pirolito como namorado, mesmo só uns dias.
Não é que a Joana aceitou.
Encorajámos o Pirolito que, cheio de medo, de novo tentou a Joana. E ela disse
que sim. O Pirolito, como hoje se diria, passou-se, creio mesmo que foi ele o
primeiro homem, rapaz na verdade, a ir à Lua.
Alguns dias depois, com um
qualquer pretexto, o namoro acabou. Curiosamente, o grupo envolvido não mais
conversou sobre esta trama.
Com os anos a passar não mais
soube do Pirolito nem da Joana, mas tenho duas convicções. O Pirolito viveu
certamente alguns dos dias mais felizes da sua vida e a Joana, cuja acção gosto
de interpretar como generosidade, deve continuar a fazer felizes as pessoas à
sua beira, mesmo por momentos.
E eu, como vos disse, não sei se
me devo orgulhar desta história, ou se me envergonhe da batotice que fizemos.
Mas, aqui para nós, não estou muito preocupado com isso.
1 comentário:
No século III um general achou que os soldados combatiam melhor se fossem solteiros. Proibiu o padre da cidade, de seu nome Valentim , de realizar casamentos. Mas o padre Valentim, à revelia do general continuou a celebrar matrimónios. Foi descoberto,torturado e preso. Na prisão começou a receber muitas prendas dos soldados casados e solteiros. Diz a lenda que acabou por apaixonar-se pela filha do carcereiro cuja menina era cega. Este amor acabou de fazer o milagre de curar a cegueira da menina. Por isso foi canonizado.
Esta história já levou ás lágrimas muitas pedras da calçada.
VIVA!
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