Tal como no
texto anterior, venho referir uma experiência educativa muito interessante. Um
projecto que envolve vários Jardins de Infância de Coimbra e estruturas de
ensino superior leva as crianças a brincar no exterior, na mata do Choupal,
qualquer que seja o tempo. As poças, as árvores ou os trilhos com lama, são
equipamentos educativos.
De facto, muitas vezes aqui tenho
referido a importância das actividades ao ar livre que deveriam ser uma rotina
e não uma excepção na educação formal e não formal dos mais novos.
Somos dos países da Europa em que
adultos e crianças menos desenvolvem actividades no exterior contrariamente,
por exemplo ao que se verifica nos países nórdicos. É verdade que esses países
têm habitualmente climas bastante mais amenos que o nosso mas, ainda assim, poderíamos
ter durante mais tempo crianças e adultos a realizar actividades no exterior. O Estudo
do Meio poderia também por regra o Estudo no Meio.
Tal como se refere na peça do
Público as vantagens destas actividades são de diferente natureza e positivas
pelo que não vale a pena repetir.
Deixo apenas umas notas a partir
de uma cena a que assisti e que se enquadra neste texto.
Num fim de tarde em que fazia uma
corridinha num espaço verde aqui da zona, o Parque da Paz passei por um grupo
familiar e a minha estonteante velocidade deu para perceber que uma gaiata
pequenina vinha descalça ao colo do pai e pedia para que ele a pusesse no chão
relvado. Ouvi o pai dizer que não se pode andar descalço, para ela não ser
teimosa porque se quis descalçar e agora tinha que ir ao colo. Para convencer a
criança, falava-lhe, cito dos "bichos que estão no chão”, da “quantidade
doenças que apanharia de andar na relva descalça" e mais que entretanto já
não ouvi. Reparei ainda que a criança vinha a comer qualquer coisa que ia
retirando de um pacote.
É notável, aquele pai revelava
uma enorme preocupação com os riscos gravíssimos de andar descalço num relvado
bem tratado e, habitualmente, sem a visita dos cães e achava aparentemente,
natural a criança comer qualquer coisa hipercalórica certamente muito perto da
hora de jantar.
Esta atitude ilustra algo que
entre nós está muito presente, um aparente discurso de preocupação que, embora
se perceba, eu diria excessiva, com muitas das actividades que as crianças
podem, eu diria devem, fazer e, ao mesmo tempo, somos frequentemente
negligentes com aspectos verdadeiramente graves de que cito como exemplos o
enorme número de acidentes domésticos com crianças ou a obesidade infantil que
já é um problema sério de saúde pública.
Muitas vezes, estes pais que
protegem tanto as crianças dos riscos de andar descalço, por exemplo, estão
também entre os que descansam, no seu entendimento, quando as crianças estão
"livres de riscos" no quarto, sós, trancadas num ecrã.
Deixem lá os putos andar
descalços e rebolar na relva. E já agora juntem-se a eles. Faz bem a todos.”
Finalmente, ainda uma chamada de atenção
para duas peças muito interessantes sobre estas questões expressas por dois
especialistas.
A primeira, uma entrevista ao
pediatra Pedro Oom a propósito do seu novo livro, “Infectário”. A segunda,
também uma entrevista ao investigador Brett Finlay, co-autor do livro “Deixe-os
Comer Terra”. Em ambas as entrevistas se sublinha a importância de repensar a
nossa acção educativa muito marcada pela inibição de experiências e actividades
importantes a vários níveis para o desenvolvimento e bem-estar das crianças.
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