Do relatório da Amnistia
Internacional "O Estado dos Direitos Humanos no Mundo" em 2016/17, hoje
divulgado, no que respeita a Portugal, releva, entre outros aspectos que justificam atenção, o impacto
significativo que as políticas de austeridade tiveram na vida dos cidadãos com
deficiência fazendo aumentar significativamente os níveis de pobreza destas
pessoas. Pode ler-se no que se refere às crianças, p.
299, “The Committee expressed concern
about cuts to resources for inclusive education for children with disabilities
and support for their families”.
Nada de novo, em contextos de maiores
dificuldades e dados os níveis fortíssimos de desemprego os grupos mais
vulneráveis são duplamente penalizados, pela sua condição e situação de vida e
por mercados e empregadores sem alma, desregulados que apenas conhecem
"activos" descartáveis e a explorar e não pessoas.
No caso particular das pessoas
com deficiência é também de recordar que O “Estudo de avaliação do impacto dos
planos de austeridade dos Governos europeus sobre os direitos das pessoas com
deficiência”, coordenado pelo Consórcio Europeu de Fundações para os Direitos
Humanos e a Deficiência conhecido no final de 2013, traçou um retrato
devastador do impacto que as políticas de austeridade e a crise económica
tiveram e têm nas condições de vida das pessoas com deficiência e,
naturalmente, das suas famílias. Este impacto, muito diferenciado de acordo com
as idades e problemáticas envolvidas, compromete seriamente os direitos básicos
em matéria de educação, saúde, trabalho e apoios sociais. Em todas as áreas os
cortes orçamentais tiveram efeitos pesadíssimos, sendo que as pessoas com
deficiência em Portugal têm uma taxa de risco de pobreza 25% superior à das
pessoas sem qualquer deficiência.
As preocupações com estas
matérias não são informadas por qualquer discurso de natureza paternalista ou
assistencialista, mas colocadas num plano de direitos humanos, de discriminação
positiva de pessoas em situação particularmente vulnerável e na não-aceitação
do princípio de que equidade significa igualdade.
A verdade é que é justamente no
tempo em que as dificuldades mais ameaçam a generalidades das pessoas que se
avoluma a vulnerabilidade das minorias e, portanto, se acentua a necessidade de
apoio e de políticas sociais mais sólidas, mais eficazes e, naturalmente, mais
reguladas.
Os números sobre o desemprego nas
pessoas com deficiência são dramaticamente elucidativos desta maior
vulnerabilidade. A vida de muitas pessoas com deficiência é uma constante e
infindável prova de obstáculos, muitas vezes intransponíveis, em variadíssimas
áreas como mobilidade e acessibilidade, educação, emprego, saúde e apoio
social, em que a vulnerabilidade e o risco de exclusão são enormes. Assim
sendo, exige-se a quem decide uma ponderação criteriosa de prioridades que
proteja os cidadãos dos riscos de exclusão, em particular os que se encontram
em situações mais vulneráveis.
As pessoas com deficiência e as
suas famílias fazem parte deste grupo.
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