"OCDE volta a sublinhar baixas qualificações dos portugueses"
"Aposta de Crato no ensino profissional destacada pela OCDE"
A imprensa de hoje aborda duas
questões que estão em título que sendo tratadas de forma diferenciada justificam
uma reflexão concertada.
A primeira referência decorre de
mais uma vez surgir um indicador negativo por parte da OCDE. Na população entre
25 e os 34 anos, Portugal tem a terceira mais alta proporção da OCDE de jovens com baixas qualificações, 39% dos indivíduos
não estudaram para lá do ensino secundário. A média na OCDE é de 17%. Aliás, se considerarmos a população
mais velha 55-64 anos o cenário é o mesmo um dos três piores resultados, 79%
das pessoas não passaram do secundário.
Neste cenário e como sempre
afirmo, o discurso muitas vezes produzido no sentido de que "somos um país
de doutores" e de que "não adianta estudar" não colhe e não tem
sustentação sendo, um autêntico tiro no pé de uma sociedade pouco qualificada
como a nossa que, efectivamente, continua, em termos europeus, com uma das mais
baixas taxas de qualificação superior em todas as faixas etárias incluindo as
mais jovens, apesar das recentes afirmações insustentáveis de Angela Merkel.
Conseguir níveis de qualificação
compensa sempre e é imprescindível. Estudar e conseguir qualificação de nível
superior compensa ainda mais. O que acontece verdadeiramente é termos
desenvolvimento a menos, não é qualificação a mais, temos um mercado de
trabalho que a cegueira da austeridade e do empobrecimento tem vindo a
proletarizar e que não absorve a mão-de-obra qualificada. Não podemos passar a
mensagem de que a qualificação não é uma mais-valia.
É um tiro no pé.
A segunda notícia prende-se com
esta. Uma outra publicação da OCDE o anuário Education Policy Outlook
incentiva e elogia a estratégia e alargamento da oferta para o ensino profissional
que tem vindo a ser seguida no ensino
secundário criando uma alternativa “ao mesmo nível” dos programas de carácter
geral com uma referência ao modelo "dual. A OCDE elogia também os objectivos de
alargamento em 30% do número de alunos abrangidos por esta modalidade em 2020 e que certamente tornarão mais simpáticas as estatísticas do abandono e insucesso num irónico "upgrade" do "Novas Oportunidades" em modo crático.
Em primeiro lugar parece-me algo
de contraditória esta visão da OCDE. Por um lado somos um dos três países da
organização com mais jovens que não têm formação superior e estamos longe de
atingirmos os objectivos definido nesta matéria para 2020. Por outro lado, elogia
o aumento da oferta e o alargamento da formação profissional no secundário. Parece-me
um pouco estranho.
Afirmo repetidamente que é
fundamental a diferenciação de percurso educativos para os nossos alunos para
que, no limite e em situação ideal, todos acedessem a alguma forma de
qualificação profissional, mais longa ou mais curta, a melhor forma de
desenvolvimento as pessoas e das comunidades.
O que este Relatório da OCDE
parece esquecer é que o ensino profissional é basicamente destinado "aos que não têm
jeito para a escola", "aos repetentes", aos
"preguiçosos" e não é percebido como uma verdadeira alternativa
"não desvalorizada", de "segunda" como muitos alunos,
famílias, professores e escolas e mesmo o discurso do próprio MEC assim a
consideram.
Aliás, e no que respeito próprio
modelo dual inspiração alemão, este tem sido visto com sérias reservas por
instituições como a OCDE(?) e a UNESCO pois a via profissional precoce mantém a
desigualdade social e é dificilmente reversível.
A título de exemplo, pode
citar-se, de acordo com o Relatório "Education at a Glance 2012" da
OCDE, que a Alemanha é um dos três países, entre os integrantes da OCDE, em
que a percentagem de jovens dos 25 aos 34 anos que atinge um nível de habilitação
inferior ao dos seus pais é superior à percentagem dos que ficam com um nível
de qualificação acima do dos pais, ou seja a mobilidade superior não funciona.
Uma consequência disso é a necessidade conhecida da Alemanha vir recrutar fora,
por exemplo em Portugal, gente com qualificação superior por insuficiência no
mercado interno. Num país como Portugal este modelo pode ter um potencial
efeito negativo mais significativo que o verificado na Alemanha.
Insisto assim na necessidade de
criar oferta formativa diferenciada, mas não tão cedo na vida dos alunos, um erro crasso do MEC, e não
privilegiando, implícita ou explicitamente, os alunos com insucesso que
naturalmente, os estudos provam-no, são sobretudo oriundos de famílias menos
qualificadas o que, obviamente, compromete a mobilidade social e a equidade de
oportunidades.
Os alunos mais novos que experimentam dificuldades
escolares, precisam de apoio escolar e não de vias profissionais.
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