O Público faz hoje referência a um
recente relatório da rede Eurydice, "Assuring Quality in Education — Policies and Approaches to School Evaluation in Europe"
sobre a avaliação da qualidade das escolas e dos modelos e dispositivos utilizados
em 31 sistemas educativos europeus, todos os da UE bem como Islândia, Noruega,
Turquia e Macedónia.
A importância e análise do Relatório
não são compatíveis com um espaço desta natureza mas justificam algumas notas.
A avaliação é, seguramente, uma
ferramenta de promoção e regulação da qualidade do trabalho desenvolvido o que
a torna imprescindível nos vários patamares do sistema. Em Portugal, no
universo da educação, a avaliação, seja de alunos, de professores ou das
escolas tem sido um terreno de enorme
instabilidade e conflitualidade, seja pela incoerência e incompetência de diferentes iniciativas do MEC, seja pela contaminação da normal conflitualidade destas
matérias pelos interesses conjunturais da partidocracia, traduzidos numa
volatilidade espantosa de mudanças e alterações que nem tempo têm se ser
avaliadas antes de ser novamente ... alteradas e sempre recebidas reactivamente.
Posto isto, algumas notas, também
sublinhadas no trabalho do Público sobre o Relatório.
Para além da semelhanças
verificadas entre o que se passa em Portugal e a realidade de outros países,
relevam algumas diferenças significativas. Nesta perspectiva duas referências.
Uma primeira nota sublinhar a
referência à baixa participação de alunos e pais na avaliação das escolas. Tal
não surpreenderá dada a cultura, modelos e práticas de centralização que genericamente
conhecemos, do pouco envolvimento dos alunos que também não será alheio à falta
de autonomia que inibe mudanças a partir da escola.
No que respeita aos pais, também
aqui, apesar das inúmeras experiências positivas, a centralização e a
conflitualidade de interesses, sem sempre interiores à educação, não é
favorável à participação dos pais, ainda que prevista, na avaliação das
escolas. É ainda de realçar que temos, genericamente, um baixo envolvimento dos pais na vida da
escola.
A segunda nota relativa a
diferenças importantes prende-se com o facto de Portugal ser um dos três únicos países
em que a avaliação das escolas não contempla a observação de aulas. Esta
matéria é mais uma das muitas em que a polémica é forte. Recordem-se as discussões
sobre a observação de aulas no contexto da avaliação de professores e os
discursos, práticas e equívocos instalados.
Aliás, à consideração dos
técnicos os técnicos da Eurydice, é de realçar que seremos dos poucos países em
que o Ministro da Educação entende que para avaliar a qualidade de um candidato
a professor que, aliás, já possui experiência e, naturalmente, formação, é suficiente a realização de uma Prova de Avaliação de Conhecimentos e Capacidades que mais parece um exercício
de charadas lógicas com 32 itens fechados acompanhado de uma "redacção" e, numa segunda fase, uma prova, também escrita, sobre o conhecimento da área científica que leccionará e dispensa o essencial,
a observação desse "candidato" no desempenho das funções a que se quer
dedicar, dar aulas, ou seja, também não é observado o seu funcionamento em sala
de aula. Aqui, lamentavelmente, podemos afirmar a coerência do sistema.
Finalmente, creio que se deve
reflectir na forma como a avaliação
interna e externa é realizada, altamente burocratizada, solicitando uma carga
enorme de informação, extensa, redundante e parte dela inútil, da forma que é
requerida. A produção desta informação consome centenas de horas de trabalho a muitos docentes roubadas à essência do seu trabalho.
O nível de informação solicitada
e as regras impostas de funcionamento e organização mostra, de facto, um
sistema altamente centralizado, burocratizado e com a tentação de manter um
controlo absoluto sobre a organização e funcionamento das escolas.
A minha experiência em processos
desta natureza, como membro de Conselho Geral, incluindo escolas com contrato de
autonomia, é elucidativa.
No último caso, o volume de
informação produzido por exigência do quadro normativo global e do contrato de
autonomia ocupava um espaço virtual de 4 MB para ser analisado na reunião do Conselho
Geral. É obra e o problema é que tinha pouco de virtual e ... eficiente.
O desgaste e desperdício de tempo
e esforço investidos na produção desta informação que, sendo lida algures no
MEC também implicará mais uma enorme carga de trabalho mas que alimenta a
máquina, não podem deixar de ter custos significativos na qualidade do trabalho
das escolas.
A avaliação, sendo imprescindível
na promoção da qualidade é tanto mais eficaz nessa função quanto mais competente
e simples possa ser.
A questão é que, como dizia o
Mestre João dos Santos, o mais difícil em educação é trabalhar de uma forma
simples.
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