Nos tempos que vivemos e em particular com a
proximidade de actos eleitorais ou para “medir o pulso” ao eleitorado, somos
frequentemente informados de resultados de sondagens ou estudos de opinião.
A discussão sobre a fiabilidade, a validade e a
consequente interpretação dos resultados, sobretudo em matéria de política, é
eterna, tal como a guerra de números em dias de greve. Os técnicos responsáveis
garantem o carácter científico do seu trabalho e, portanto, a sua
credibilidade. As figuras ou entidades que aparecem mais beneficiadas não
deixam, claro, de lhes emprestar crédito e assumir que elas espelham a opinião
ajustada do universo inquirido. Finalmente, as figuras ou entidades cujos
indicadores são menos favoráveis entendem por bem duvidar, claro, dos
resultados quer ao nível do “rigor científico” quer, versão mais pesada, de
alguma manipulação intencional dos resultados. Sempre assim foi, sempre assim será,
creio por isso que resta aquela velha máxima, as sondagens valem o que valem.
Vem esta introdução a propósito dos resultados
hoje conhecidos relativos a duas sondagens que apontam, em alguns
aspectos, para resultados com diferença significativa. Não me refiro aos
resultados, deixo isso para os especialistas até porque se vai verificando
alguma volatilidade de intenções e apreciações ao sabor da espuma dos dias.
A minha questão no que respeita às sondagens,
remete para uma ideia que há já bastante tempo aqui referi. Sabendo e
reconhecendo o peso que a opinião publicada tem na construção da opinião
pública, este o universo que é normalmente inquirido, creio que é de estar
muito e cada vez mais atento ao que “NÃO DIZEM” algumas franjas sociais que
habitam a periferia da vivência, a sobrevivência, os que normalmente não são
inquiridos.
A este respeito, cito Sam the Kid que, num
fenómeno interessante, integra uma área do hip hop que parece estar a ocupar o
espaço do que há 40 anos chamávamos música de intervenção e que sem raízes
musicais portuguesas (essa a grande diferença) assume um discurso lúcido,
atento, crítico e, por isso, menos integrado.
"Eu sou a percentagem que a
sondagem nunca mostra
Eu sou a mente exausta da miragem mal
composta
Eu sou a indiferença e a insatisfação
Eu sou a anti-comparência, eu sou a
abstenção"
De facto, cada vez mais me parece que a voz da
percentagem que a sondagem nunca mostra deve ser escutada com enorme atenção.
2 comentários:
O Sam the Kid não é aquele que vive na cave com a mãe?
Sim, vive na cave com a mãe e mais cinco irmãos, sem luz, sem água, beneficiando apenas de subsidio de integração social e sujeito á caridade dos vizinhos. NO ENTANTO É A VOZ DAQUELES QUE NÃO TÊM VOZ.
VIVA!
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