Nos últimos tempos a linguagem do quotidiano tem ido enriquecida com um vocabulário que por razões diferentes nos vai causando alguma perplexidade e pode justificar umas notas próprias de uma manhã de Domingo.
Já cansados das referências obsessivas aos mercados, quase sempre entendidos como uma entidade algures entre um deus que nos regula a vida e a quem não se pode desagradar e um pai que nos sustenta, fomos conhecendo umas tais agências de rating que inexplicavelmente conseguem influenciar as taxas a que se pede dinheiro emprestado quando são sustentadas pelos grupos financeiros que emprestam dinheiro e que, portanto, beneficiam criminosamente com a alta das taxas de juro determinadas pelas agências por si controladas.
Nos últimos dias fomos bombardeados com o pedido de ajuda externa e o resgate a que fomos obrigados a recorrer. Para além do indecoroso espectáculo proporcionado pelos actores políticos portugueses, algo que não estranhamos, parece-me interessante esta coisa do pedido de ajuda e do resgate.
Desde sempre nos habituámos a entender um pedido de ajuda como algo a que procedemos quando atravessamos alguma dificuldade. Sendo verdade que atravessamos muitas, é certo que uns mais do que outros, parece claro que se faz um pedido de ajuda para aliviar, já não digo resolver, essas dificuldades. Acontece que segundo a experiência de outros países e o discurso dos donos do mundo a ajuda é, estranhamente, para aumentar as nossas dificuldades. É verdade, vamos receber ajuda para pagarmos mais impostos, vamos receber ajuda para aumentar o desemprego, vamos receber ajuda para baixar salários, vamos receber ajuda para baixar os apoios sociais disponíveis.
É no mínimo estranho. Não se trata de um discurso demagógico trata-se de perceber porque raio se chama ajuda à injecção de dinheiro que entrando no sistema económico e financeiro não parece ficar o serviço do bem-estar de todos mas servir, como sempre, os mercados. Uma sugestão, não lhe chamem ajuda, chamem-lhe investimento, quem manda para cá o dinheiro da "ajuda" não é propriamente uma IPSS sem fins lucrativos.
Uma nota sobre o resgate. Também nos habituámos a que o termo resgate se utiliza habitualmente para designar uma operação de salvamento. O resgate que se propõem fazer connosco vai manter-nos nas mãos dos "resgatadores", obriga-nos a obedecer às suas regras e às condições que entendem por bem, em função dos seu interesses, fixar como preço para o resgate.
No fundo estão a resgatar o investimento que fazem na "ajuda" e que não estão, obviamente, interessados em perder.
Porque não se fala claro?
4 comentários:
Eu sempre achei que essas empresas de rating deviam ser julgadas no Tribunal de Haia.
Ricardo
E quem as leva lá?
Mercados são mercados. Todos nós sabemos + ou - como funcionam. Resta-nos arranjar defesas (digo governantes) que sejam honestos e imbuídos do interesse nacional, ou seja do povo.Isso não tem acontecido. Mas temos tentado!!!
Talvez esteja na altura de mudar de direcção.
Fazendo uma retrospectiva de todos os responsáveis que têm gerido a nossa governação não posso de maneira nenhuma diabolizar os mercados e por omissão inocentar todos os políticos.
O poeta disse:
Rouba muito que, de resto,
Terás um bom advogado
Que prova que és mais honesto
Que propriamente o roubado
António Aleixo
saudações
E assim o mundo se vai desmoronando...
"Mercados são mercados" é muito bonito. Empresa rating emite nota X » bancos exigem juros mais altos » situação económica/finceira mais dificil para um país » empresa rating diminui a nota do país » bancos exigem juros ainda mais altos. Mercados? Só se for o mercado "rating"!!! Isto é o cúmulo de mercado distorcido, é falso, é artificial, só serve para uns maganos ganharem milhões. Com esta lógica a continuar, com este desequilibrio todo, só vejo um desfecho - vai dar bronca, e não é só para o nosso país.
Ricardo
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