sexta-feira, 15 de abril de 2011

UM MUNDO COMPOSTO DE MUDANÇA

As novas qualidades, se o forem, que um mundo composto de mudança vai tomando assumem as mais variadas formas e revelam-se em múltiplos campos.
A linguagem, algo de dinâmico por natureza e condição, não podia deixar de reflectir também as mudanças. Por curiosidade, deixo aqui alguns exemplos que me parecem curiosos.
Há uns tempos atrás tínhamos um namoro, um casamento ou, mais simplesmente, juntávamo-nos. Actualmente toda a gente tem “uma relação”.
Há algum tempo trabalhávamos, estudávamos ou fazíamos qualquer coisa. Actualmente, de forma mais sofisticada, temos um “projecto”.
Há algum tempo as pessoas que trabalhavam por conta de outrem eram trabalhadores mas agora são “colaboradores” ou “activos”.
Há algum tempo, alguém que não saldasse uma dívida, tinha um calote ou era, claro, caloteiro. Requintou-se a designação e passou a ser alguém que entrou em “incumprimento”.
Há algum tempo fugir à verdade era mentir mas hoje é produzir uma “inverdade” ou cair num “equívoco”.
Há algum tempo falávamos de regiões mais pobres, hoje, não percebo porquê, falamos de regiões “deprimidas”.
Um outro exemplo saído de um noticiário televisivo, às pessoas de quem se dizia viverem com dificuldades chamaram pessoas que vivem “sob pressão”.
Há algum tempo a alguém que comentava, mal ou bem, a vida política chamava-se comentador, hoje é um “politólogo”.
Há algum tempo falava-se de ideias novas, hoje são “emergentes”.
Há algum tempo a nossa relação com os donos do dinheiro era impessoal e distante. Hoje chamam-se “mercados” com quem temos uma relação muito personalizada e cautelosa, “não se pode irritar os mercados”, “é preciso dar sinais positivos aos mercados”, “temos que nos portar bem com os mercados”, “os mercados não gostam”, etc.
Há algum tempo isto seria umas notas avulsas para divulgar, hoje é um “post” para “postar” num “blogue”.

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