Numa loja pequena de bairro, estavam duas clientes que quando o escrevinhador entra desenrolavam uma conversa, que agora se reconstrói com a memória e com a desculpa de quem não podia deixar de ouvir pela razão simples de estar presente e o espaço ser pequeno. As clientes são duas mulheres novas que parecem conhecer-se.
Pois não te tenho visto, está tudo bem contigo e com a família?
Sim, vamos indo como podemos.
Claro, a vida não está fácil.
O meu marido está a trabalhar no norte. Estou com a minha filha em casa da minha mãe. Há umas semanas até tinha encontrado um serviço para fazer a seguir ao emprego. Não era muito mas sempre ajudava, sabes como é. Ia das sete até às onze mas quando chegava a casa via a minha filha triste até que há uns dias ela disse-me, "Podias ganhar menos e estar mais tempo aqui em casa". Olha, deu-me cá uma tristeza, no dia a seguir já não fui. E já não vou mais, só para não morrer de fome e mesmo assim. Não quero voltar a ver os olhos da minha filha olharem assim.
Acho que fizeste bem.
O escrevinhador ficou a pensar que quando as mães querem e sabem olhar para os olhos dos filhos não precisam de manuais.
E os filhos têm pais, a sério, um bem de primeira necessidade.
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