sexta-feira, 15 de abril de 2011

O SOBRESSALTO CÍVICO (continuação)

A imprensa de hoje refere que os promotores da manifestação de 12 de Março registaram a expressão bandeira “Geração à rasca” no sentido de evitarem aproveitamentos partidários, comerciais ou de outra natureza. Decidiram ainda a institucionalização de um Movimento 12 de Março com o objectivo de manter uma intervenção cívica e política activas na promoção da democracia fora dos limites estreitos dos aparelhos partidários.
A manifestação de 12 de Março mostrou, entre outras coisas, que existe clima e disponibilidade para o envolvimento e participação cívica e política dos cidadãos de diferentes gerações fora do quadro partidário.
Durante a preparação da manifestação e nos dias seguintes assistimos a algumas intervenções oriundas das esferas partidárias que, de forma mais ou menos explícita, procuravam “apanhar boleia” neste movimento com a óbvia intenção de o capturarem e manter sob controlo.
Esta decisão de formalizar o M12M, que me parece interessante e que acredito genuína no sentido da defesa da democracia e dos direitos de cidadania, pode vir a constituir um instrumento fundamental de mudança pois, se suscitar níveis de envolvimento e mobilização significativos, obrigará a uma reflexão profunda dos partidos e da sua praxis.
Neste cenário pode acontecer que, ou os partidos promovem mudanças e modernizam organização, práticas e valores e continuam como pilares fundamentais da vida democrática associados a outras formas de organização cívica, ou continuam a fechar-se sobre si próprios e os respectivos aparelhos, vivendo de grupo do fiéis que face ao abstencionismo progressivo vão mantendo o poder, ainda que rotativo, até que impludam ou até que movimentos sociais de natureza mais radical e reactiva às formas de poder imponham mudanças.
No fundo, trata-se de perceber se a nossa democracia evoluirá com os partidos, apesar dos partidos ou, perigosamente, contra os partidos.

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