Quando a iniciativa de distribuir a famílias carenciadas as sobras dos estabelecimentos de restauração começou a ser falada há uns meses atrás escrevia aqui que, considerando as enormes dificuldades que muitas pessoas atravessam constitui quase um crime o desperdício de comida confeccionada que vai diariamente parar ao lixo onde, cada vez mais frequentemente, é "recuperada" por pessoas sem alternativas. É de sublinhar que estamos a falar de sobras e não de restos.
Referia-se na altura que muitos restaurantes, num bom exemplo de responsabilidade social, estariam na disposição de providenciar essas sobras a instituições de solidariedade social mas que estavam impedidas de o fazer devido às restrições legais nas condições de transporte e distribuição de alimentos fiscalizadas pela ASAE e entendem, com alguma razão não ser seu dever providenciar também o transporte já que dão a comida confeccionada.
Finalmente, parece que a Associação de Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal, autarquias e instituições de solidariedade social, salvaguardando as questões de saúde, surgem envolvidas na criação de uma rede que suporte e operacionalize o aproveitamento e a distribuição por quem necessita das sobras de alimentos confeccionados. Iniciam-se hoje em Santa Maria da Feira, Entroncamento e Lisboa as primeiras experiências no âmbito desta campanha. É bom mas é curto.
Não simpatizo particularmente com a ideia de "caridade para com os mais pobres" mas entendo que o combate ao desperdício é um imperativo, tanto mais, considerando os tempos difíceis que atingem milhares de famílias.
Pode também acontecer, sou um optimista, que estes tempos e iniciativas desta natureza possam contribuir para um refrescamento dos padrões éticos e do sistema de valores das nossa comunidades.
Não é que os sinais sejam particularmente animadores, mas como diz o Velho Zé Marrafa lá no meu Alentejo, "Deixe lá ver".
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