sexta-feira, 1 de abril de 2011

A HISTÓRIA DO ALUNO AGITADO

Um dia destes, a Professora Isabel cruzou-se à saída da escola com o Professor Velho, o que está na biblioteca e fala com os livros.
Ainda bem que te encontro Velho, preciso de um conselho.
Esse é um dos problemas dos Velhos, as pessoas estão sempre à espera que os Velhos tenham conselhos.
A sério, tenho lá um miúdo, o Fábio, acho que conheces.
Sim sei, é um miúdo que anda sempre a correr.
Esse mesmo Velho, e é até por isso que e sou inquieta, ele é um miúdo que de facto se mexe e corre embora não ache que faça muito mais que os outros da idade dele. A questão é que os pais vieram falar comigo porque temem que o Fábio seja hiperactivo e querem levá-lo a uma consulta, que achas que diga.
Já tenho muitas vezes conversado sobre isso, parece que estamos a mudar as ideias sobre os miúdos. Cada vez mais se acha que qualquer miúdo tem qualquer coisa, às vezes até digo que só temos os dis-miúdos, todos têm uma dis-função qualquer, quase que já não se encontram miúdos normais, saudáveis. Então no que respeita à chamada hiperactividade é mesmo assustadora a facilidade com que lhes colocam “rótulos” de hiperactivos. Existem naturalmente miúdos que podem ter problemas desta natureza mas é impossível existirem tantos como os que são referenciados e, pior, medicados como tal. Muitos deles, tal como o Fábio, miúdo que conheço bem, são miúdos “em movimento”, miúdos cujos estilos de vida e contexto familiar lhes induzem essa agitação e eles acabam por ficar como aqueles relógios automáticos que precisam de andar no pulso, andar agitados, para funcionar. Esses miúdos já não são capazes de abrandar, “vivem” da agitação.
Acho que precisavam de ambientes mais tranquilos, mais calmos, com menos ruído e caos, com menos pressa e eles certamente sentir-se-iam menos agitados, mais regulados. Experimenta falar com os pais no sentido deles próprios não se sentirem tão agitados e inquietos. Com alguma frequência a hiperactividade “pega-se” aos miúdos, muitas vezes pelos pais, apesar das suas boas intenções.
Acho que percebo, de facto nós todos passamos a vida a correr. A propósito, já estou atrasada, tenho que me apressar para poder passar pelo ginásio antes do jantar.
Pois.

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