O episódio agora revelado por Pacheco Pereira sobre uma mensagem da liderança a inibir os deputados da bancada do PSD de expressarem ideias pois poderiam beneficiar o PS é apenas mais um que ilustra o funcionamento da partidocracia e de como os partidos se entendem e se assumem como os donos das consciências dos seus militantes. Aliás, o próprio Pacheco Pereira deixa de integrar as listas do PSD para as legislativas porque não tem uma consciência de aluguer, virtude que lhe reconheço independentemente de eu discordar frequentemente das suas posições.
Ninguém minimamente atento à vida política portuguesa estranhará tal episódio numa renovada direcção de Pedro Passos Coelho o novo mais velho da política portuguesa e este comportamento mostra como a tradição ainda é o que era.
Este tipo de incidentes, em que os últimos tempos, têm sido férteis alimenta o afastamento e desconfiança dos cidadãos face a políticos e a partidos. No actual quadro político administrativo é muito difícil a intervenção cívica, no sentido político, fora da tutela dos aparelhos partidários. Verifica-se também que a capacidade de mobilização dos partidos se dirige a uma minoria de pessoas que emerge dos respectivos aparelhos que, assim, podem aceder a alguma forma de poder e a uma maioria que enche autocarros, recebe uns brindes e tem um almocinho de borla. A partidocracia não atrai porque os partidos se tornam donos da consciência política das pessoas, veja-se o espectáculo deprimente da Assembleia da República, salvo honrosas excepções vota-se o que o partido manda, independentemente da consciência.
Reconhece-se hoje que as camadas mais novas, sobretudo mas não só, atravessam uma complexa situação envolvendo os valores, a confiança nos projectos de vida, os estilos de vida, etc. Neste quadro, a adesão à intervenção política, tal como se verifica genericamente em Portugal, parece mais uma parte do problema, é velha a partidocracia para responder a problemas novos, que um caminho para a solução.
De tudo isto resulta, como muitas vezes refiro, o afastamento das pessoas pelo que a construção de outras formas de participação cívica parece ser a única forma possível de reformar o quadro político que temos, ou seja, os partidos ou definham ou mudam, pela pressão do exterior.
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