Para fugir um pouco à circularidade das notícias sobre a presença da “troika” (que raio de nome) de negociadores internacionais que nos virão dizer como iremos viver nos próximos anos, o I traz a primeira página a questão do “dressing code” em vigor nas escolas. De facto, existe regulamentação, que alguns directores consideram excessiva e inibidora da abordagem caso a caso, que determina as regras de vestuário, apresentação e também de conduta em muitas das escolas públicas portuguesas.
As opiniões nesta matéria são sempre de grande elasticidade, variando entre os que defendem a “farda” até aos que sustentam que regular a apresentação é um atentado aos direitos individuais. Já não tenho muita paciência para certo tipo de discussões.
Peço desculpa, mas esquece-se algo que me parece essencial. Os miúdos nesta fase, pré-adolescência e adolescência, estão a construir uma identidade, a sua. Tal “trabalho” passa, em todas as épocas (lembremo-nos da recusa da gravata nos anos 50, das minissaias dos anos 60, dos cabelos às cores dos anos 80, dos piercings a seguir, etc.), pela tentação de andar nos limites do instituído, linguagem, vestuário, “aspecto visual”, música, consumos, etc. Este tipo de funcionamento, quase sempre transitório, presente, de forma mais ou menos evidente, na generalidade dos adolescentes levanta algumas inquietações aos adultos que, à falta de melhor solução, têm a tentação de proibir, o que se compreende. Também me lembro de me terem proibido socas, a camisa por fora das calças e cabelo comprido. Mas só proibir é tapar o Sol com a peneira. Claro que muitos pais ficam contentes com o facto de a escola proibir algo que eles gostavam de proibir mas que não se sentem capazes, assim a escola compra, por eles, a “briga” com os filhos.
Por outro lado, é fundamental para os próprios adolescentes que percebam claramente que “não vale tudo”, ideia que por vezes pode decorrer de retórica como, são direitos individuais, veste-se, fala-se e faz-se o que se quer, é um caso de liberdades individuais, etc. Devo dizer que parte deste argumentário cai no que considero uma espécie de delinquência educativa. A vida em sociedade e o respeito por regras sociais obriga a que ninguém de nós possa fazer sempre o que quer, quando quer, onde quer, da forma que quer, etc. Construir de forma sensata estas balizas reguladoras é uma tarefa indispensável ao desenvolvimento e à formação.
O que quero simplesmente dizer é que, muito para lá das proibições, ou em vez das proibições, trata-se de construir valores, capacidade de auto-regulação dos comportamentos por parte dos jovens, de construção conjunta dos necessários códigos de conduta e de sermos capazes de discriminar o essencial do acessório.
Não é o tamanho da saia que previne a vitimização, não é a calça descaída que determina a indisciplina.
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