O Público de hoje apresenta uma
peça sobre uma matéria a que muito frequentemente aqui me refiro, o problema de
alunos com necessidades especiais e das suas famílias após os 18 anos, ou seja,
após o cumprimento da escolaridade obrigatória. O que espera estes alunos?
Muitas vezes se fala da
necessidade instituições especializadas ou, preferencialmente na minha perspectiva, da necessidade
de vias de continuidade da sua formação e desenvolvimento numa perspectiva
integrada.
Antes de mais, uma nota breve.
Do meu ponto de vista algumas das
dificuldades dos alunos com necessidades especiais após os dezoito anos radica no seu percurso
anterior.
Muitas das pessoas mais próximas
desta realidade, sabem que devido, entre outras causas, à desregulação pecado
estrutural do nosso sistema educativo se verifica uma latitude de práticas que
varia entre o muito bom e o … péssimo.
Conheço inúmeras situações em que
os alunos e as famílias não vêem protegidos os seus direitos em matéria de
educação e inclusão. Aliás, sucessivas avaliações e muitos relatos de pais,
basta ouvi-los, têm mostrado isso mesmo.
Muito brevemente, recordo alunos
que são precocemente e sem qualquer fundamentação sólida colocados ao abrigo de
uma coisa bizarra chama CEI, rótulo de que não se livram e os condena a um
espaço curricular, quando não físico, guetizado e sem participação nas
actividades comuns da escola. Recordo práticas observadas em Unidades de Ensino
Estruturado cujas actividades têm um baixíssimo contacto com a restante
comunidade escolar. Recordo Unidades de Apoio Especializado a Alunos com
Multideficiência que alunos com multideficiência têm … nenhum e estruturam-se
em espaços fechados nas escolas. Recordo … . Curiosamente tudo isto acontece,
tal como as boas experiências, em nome da inclusão. Claro!
Acontece que estes alunos terão,
necessariamente, maior dificuldade após a escolaridade obrigatória. Muitos
jovens, conforme a peça do Público exemplifica, correm o risco de ficarem em
casa com tudo o que de negativo implica. Aliás, também famílias que foram “convidadas”
a retirarem os filhos das escolas e a encontrar alternativas.
E é neste contexto que surge a
recorrente referência a instituições especializadas.
Dou por adquirido que depois dos
18 anos uma franja muito pequena de pessoas com necessidades educativas
especiais pode necessitar de respostas institucionalizadas. Dou ainda por
adquirido que as instituições podem prestar um serviço importante para a
qualidade vida das pessoas.
No entanto, a institucionalização
generalizada não parece a mais ajustada em nome do que se defende para a sua
educação até aos 18 anos e para sua vida como cidadãos, educação e inclusão.
A inclusão assenta em quatro
dimensões fundamentais, Ser (pessoa com direitos), Estar (na comunidade a que
se pertence da mesma forma que estão todas as outras pessoas), Participar
(envolver-se activamente da forma possível nas actividades comuns) e Pertencer
(sentir-se e ser reconhecido como membro da comunidade).
O envio destas pessoas para as
instituições contraria tudo isto e o que foi procurado fazer antes dos 18 anos
ainda que, como vimos, nem sempre bem.
Depois dos dezoito anos, tal como
antes, as pessoas com necessidades especiais devem ser, estar, participar e
pertencer aos contextos em que todas as outras pessoas com mais de 18 anos
estão.
Porque não podem frequentar
estabelecimentos de ensino superior?
Porque não podem frequentar
espaços de formação e aprendizagem profissional?
Porque não podem frequentar
espaços laborais?
Porque não podem frequentar
espaços de recreio, cultura e lazer?
Porque não pode envolver-se em
instituições sociais não como “clientes” mas como actores?
Porque não …
Não, não é nenhuma utopia. Muitas
experiências mostram que não é utopia.
O primeiro passo é o mais
difícil, tantas vezes o tenho afirmado. É acreditar que eles são capazes e
entender que é assim que deve ser.
4 comentários:
Exatamente! A necessidade da inclusão/equidade é essencial no percurso destes cidadãos. Neste momento, para que um cidadão adulto com necessidades especiais tenha alguma atividade a única opção é a institucionalização, como internato ou externato.
Sou mãe de uma menina com multideficiência com 10 anos e como percebi que a minha cidade não tinha a resposta que queria para a minha filha, juntei-me a um grupo de pessoas que direta ou indiretamente estão ligadas a pessoas com NE e reabilitámos uma associação em Santarém (INCLUIR).
Não queremos espaços para pessoas com deficiência pois acreditamos e sabemos que a comunidade é de todos. Queremos os nossos filhos na rua, nas escolas, incluindo politécnicoS e universidades, nas empresas, etc. Estamos a trabalhar nesse sentido. Um muito obrigada pelo seu texto fabuloso. O que diz é uma realidade mas ainda existem situações mais graves, como por exemplo, a escola induzir medo aos pais dizendo-lhes que se não institucionalizarem os seus filhos precocemente, quando chegarem aos 18 anos não têm onde os colocar, livrando-se assim deste "problema".
Enquanto o estado achar que a instituição tem mais capacidade de tomar conta dos nossos filhos do que nós pais, dificilmente se destroiem alguns lobies.
Olá Mãe, é mesmo isso. Mande informação sobre o vosso trabalho, se puder ajudar, disponham. Força, pelos miúdos e jovens.
Muito obrigado pelo seu texto. Foi dos textos mais simples e importante que eu já li sobre a inclusão.
É uma questão de direitos e cidadania.
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