Segundo O Relatório de encargos com
as campanhas eleitorais que partidos e coligações são obrigados a entregar no
Tribunal Constitucional, só o trabalho de aconselhamento do publicitário André
Gustavo à coligação PSD/CDS-PP terá custado 475000 euros. Um outro exemplo, o PS
pagou 751 mil euros pela decoração de salas, a iluminação e o som para dúzia e
meia de comícios.
Sou dos que entendem que a
democracia tem custos e que dinheiros públicos deverão ser empregues, de forma
controlada e transparente como é óbvio, neste tipo de iniciativas justamente
como forma de … promover a democracia.
Por outro lado, também entendo
que os apoios financeiros privados a para a actividade política devem ser
fortemente regulados e escrutinados porque como se sabe … não há almoços
grátis.
O que que me vai deixando
progressivamente mais inquieto dada vez me deixa mais inquieto é que as ideias
políticas, de uma forma geral, transformaram-se me “produtos” em “conteúdos”
que devem ser vendidos o melhor possível independentemente da sua qualidade.
Basicamente desde o famoso debate
entre Kennedy e Nixon em 1960 que a imagem, comunicação social, passou a ter um papel fundamental na acção política de qualquer governo ou regime.
Qualquer de nós concordará que
uma boa ideia mal “vendida” pode ser entendida como uma má ideia e,
inversamente, uma má ideia bem “vendida” pode ser considerada como uma boa
ideia. Sabemos também como todas as pessoas que profissionalmente contactam com
outros, precisam de estratégias de comunicação eficazes de modo a potenciar o
seu efeito.
Dando por adquirido que as
práticas neste universo estarão dentro do quadro legal, o que nem sempre
acontecerá, a grande e difícil questão que se coloca neste universo, não é a
utilização de um conjunto de ferramentas de comunicação, a que, simplificando,
podemos chamar marketing, publicidade, mas a regulação ética e moral dessa
utilização.
Existe uma ténue fronteira entre
“boa estratégia de comunicação” e “manipulação”, existe uma linha estreita
entre o que se deve dizer e o que se deve saber, considerando os conflitos de
interesse em jogo, existe uma distância muito curta entre retratar a realidade
e retratar a mesma realidade de diferentes ângulos e com diferentes
indicadores, existe a possibilidade de passar todas as mensagens ou de
privilegiar algumas mensagens, existe a possibilidade da dupla mensagem, ou
seja, um discurso ao encontro do que se julga querer ouvir e uma prática que se
avalia como necessária, etc.
A questão é, assim, saber se a
estratégia dos actores políticos em matéria de comunicação e imagem estando,
desejo, nos limites da lei, respeita os limites da ética e os direitos
individuais, como o direito à informação. Pessoalmente, devo dizer que, por
vezes, me incomoda particularmente, o que oiço e vejo, quando sei, por que
conheço, que a realidade não é o que me estão a vender.
De resto, lembremo-nos da mítica
comparação de Rangel sobre a possibilidade da TV, tanto vender sabonetes como
presidentes.
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