No Público encontra-se uma entrevista
com o Professor José Verdasca responsável pelo Programa Nacional de Promoção do Sucesso Escolar a entrar em funcionamento no próximo ano lectivo. Ao que tenho
acompanhado pelos projectos apresentados por algumas escolas e que carecem de
aprovação pela estrutura de coordenação surgem-me algumas dúvidas face à
burocracia normalizadora, incluindo pedagógica, curiosamente em nome de uma
ideia de diferenciação que, como tantas outras em educação, é objecto de alguns
equívocos.
Na entrevista, embora
reconhecendo que as questões do sucesso envolvem variáveis exteriores à escola,
sublinhando a necessidade de intervenções precoces e, lá está, mobilizar
intervenções educativas diferenciadas, o Professor José Verdasca acaba por
sediar nos professores e na sua cultura a quase exclusiva responsabilidade pelo sucesso dos alunos.
É verdade que a associação entre
os resultados escolares dos alunos e variáveis de natureza sociodemográfica
como meio social, económico e cultural, circunstâncias de vida, estilos
parentais, etc. etc., está estabelecida de há muito.
Também sabemos que a escola faz,
pode fazer a diferença, ou seja, o trabalho na e da escola e dos professores é
um factor significativamente explicativo do sucesso dos alunos mais vulneráveis
e capaz de contrariar o peso das outras variáveis que estão presentes nesses
alunos.
Só que a escola envolve organização
e recursos, clima e liderança, por exemplo, e também, evidentemente, o trabalho
em sala de aula.
No entanto, mesmo este trabalho
não depende apenas de variáveis individuais de cada docente, decorre também de
um conjunto de políticas educativas que promovam a qualificação, a motivação e
a valorização a diferentes níveis do trabalho dos professores.
Decorre de políticas educativas em matérias como currículos, autonomia real, sistema de
organização e funcionamento, recursos humanos docentes, técnicos e funcionários, tipologia e
efectivo de escolas e turmas, etc, só a para citar alguns exemplos contributivos para o maior ou menor sucesso educativo antes de entrar na sala de aula.
Aliás, em matéria de sucesso educativo
recordo o Despacho Normativo nº 1 – F/2016 de 5/4/2016 que regulamenta o novo
regime de avaliação e certificação das aprendizagens desenvolvidas no ensino
básico e apresenta medidas de promoção do sucesso educativo, que transcrevo em
baixo.
Independentemente do Programa Nacional
de Promoção do Sucesso Escolar mais uma vez temos a regulamentação da promoção
do sucesso educativo.
Como é claro pelo estado da arte,
o resultado de sucessivas regulamentações tem sido compatível com o volume de
alterações, ou seja, ainda temos muito a fazer. É no entanto justo reconhecer
que a qualidade das aprendizagens dos alunos tem revelado nos últimos anos,
apesar de alguma quebra mais recente, uma evolução importante apesar das muitas
fragilidades que se mantêm.
As medidas de promoção do sucesso
educativo contidas no Despacho Normativo parecem-me globalmente claras,
formuladas adequadamente e estão dentro do que a evidência sugere como boas práticas
e conceptualmente sólidas e menos sujeitas a equívocos que a retórica
informadora do Programa Nacional de Promoção do Sucesso Escolar.
A questão é que, como referi na
altura, fiquei com pequenas dúvidas
São para aplicar na generalidade
das nossas escolas e agrupamentos?
Com que real autonomia das
escolas e agrupamentos?
Com que recursos docentes e
técnicos disponíveis para os diferentes dispositivos de apoio enunciados?
Com a burocratização e modelos de
funcionamento e organização da generalidade das escolas?
Com …
A dificuldade das respostas
talvez seja a justificação para o Plano Nacional de Promoção do Sucesso Escolar.
Vamos a ver como resulta. Porque
é, evidentemente, para resultar.
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