Está a decorrer a Volta a
Portugal em Bicicleta. Aliás, hoje, para utilizar uma expressão clássica,
corre-se a “etapa rainha”, a subida à Serra da Estrela.
Creio que a Volta a Portugal já
não tem hoje nem o espaço nem, talvez, o encanto de há alguns anos mas continua a atrair muita gente para
a beira das estradas por onde passa. O período de férias, mais tranquilo, é
amigo da memória e recordei a Volta a Portugal em bicicleta lá para trás no
tempo.
Quando eu era miúdo a caravana da
Volta a Portugal em bicicleta passava pertinho da minha terra. Quase sempre
iniciava-se uma etapa em Cacilhas ou na Cova da Piedade e dirigia-se para sul,
nessa altura, se bem me lembro a Volta era mesmo a Portugal, de cima a baixo.
Íamos ver passar a Volta no
Laranjeiro, na EN 10 em frente à mítica loja de bicicletas do Jorge Pereira,
tenho ideia que até havia uma meta com um prémio para o ciclista que a passasse
em primeiro lugar.
Era dia de romaria, ia-se cedo
para encontrar o melhor local de visão e o melhor acesso aos brindes
distribuídos pelos "carros dos anúncios", como lhes chamávamos.
A passagem da caravana era breve
e marcada pela tentativa de saber se à frente passava um ciclista do Sporting.
Conhecíamos os ciclistas como hoje conhecemos os futebolistas, João Roque,
Firmino Bernardino, o incontornável Joaquim Agostinho pelo Sporting ou os do
Benfica, Américo Silva, Peixoto Alves, Wenceslau Fernandes, ( pai da atleta de
triatlo Vanessa Fernandes), por exemplo e sem ter a certeza de todos os nomes.
O segundo grande momento era a
passagem, antes dos ciclistas, dos "carros dos anúncios" e a
distribuição de ninharias cuja caça era uma tarefa complicada mas um desafio
irresistível. O terceiro momento mais aguardado era a passagem do
carro-vassoura que nos deixava sempre um pouco a pensar e a discutir entre nós
como deveria ser difícil desistir, não poder seguir com os outros e ser
recolhido numa viatura com o "simpático" nome de carro-vassoura.
Quase sempre chegávamos à conclusão que um ciclista deveria mesmo sentir-se mal
quando nele entrava, o que nos fazia ter "respeito", como dizíamos,
pelo carro-vassoura.
Bom, acabava o espectáculo ao
vivo da Volta a Portugal.
Depois restava a televisão para
ver as incidências, o desempenho e o sacrifício daqueles heróis que atravessavam
de bicicleta o Alentejo no Verão e pedalavam por ali acima na Serra da Estrela
na “etapa rainha”, a de hoje.
Já foi há tanto tempo.
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