No DN está um trabalho em que
vários responsáveis da Ordem dos Médicos referem a pressão em Centros de Saúde, Unidades de Saúde Familiar e Hospitais para que os médicos reduzam o tempo de
consulta, registando-se situações em que o tempo previsto para cada doente é de
cinco minutos, leram bem, cinco minutos.
Ganha sentido a famosa expressão “visita
de médico” e é um avanço significativo face a uma orientação de 2014 do
Tribunal de Contas que no âmbito de uma auditoria ao SNS recomendava que as
consultas médicas durassem um máximo de 15 minutos.
Parece razoavelmente claro que
para realização de uma consulta médica, não apenas o preenchimento de
receituários ou da requisição de exames complementares, os temps referidos são
insuficientes para um trabalho de qualidade.
Acresce que neste tempo o médico
tem de lidar com dispositivos informáticos e plataformas que nem sempre
funcionam e burocratizam o seu trabalho.
Como é sabido, muitas das pessoas
que recorrem às consultas, mesmo nas urgência, são idosas que frequentemente
sofrem de “sozinhismo”,a doença de quem vive só, que se minimiza no convívio
com outros sós na sala de espera e na atenção de um médico que escuta, por
vezes, mais a dor da alma que as dores do corpo, mesmo que pareça uma
"simples" gripe que, aliás, de tão simples que é, nem se percebe as
consequências graves que, frequentemente, tem.
Já estive envolvido em
circunstâncias, pessoais ou acompanhando familiares, em que o médico claramente
estava pressionado pelo tempo que (não) podia dedicar, a atitude que (não)
podia demonstrar, a comunicação que (não) podia estabelecer. As muitas pessoas
com horas de espera na sala inibem-no na disponibilidade e tempo necessário a
uma consulta que, de facto, o seja, e não um acto administrativo realizado sob
pressão da "produtividade".
Ainda assim, nada que se estranhe
num tempo em que os números se sobrepõem às pessoas.
Mas pela nossa saúde …
Sem comentários:
Enviar um comentário