segunda-feira, 2 de maio de 2016

DA MUDANÇA EM EDUCAÇÃO

É verdade que as comparações entre realidades diferentes devem ser realizadas com prudência em qualquer domínio, em particular na educação. No entanto, a análise dessas realidades, sobretudo de experiências bem-sucedidas podem ser inspiradoras de mudanças e ajustamento que, respeitando diferenças, possam potenciar evolução e progresso.
Importa ainda que as mudanças se operem num quadro claro, participado, com calendários que minimizem instabilidade, com os recursos adequados e com um ajustado e coerente enquadramento legal
Vem esta introdução a propósito do trabalho no DN de ontem sobre a mudança em curso nos colégios jesuítas na Catalunha e que tem tido referência frequente tal como a reforma em curso na Finlândia, aliás, com proximidades evidentes.
Neste contexto e para lá da recomendação de leitura da peça, algumas notas.
Do meu ponto de vista as mudanças em curso nestes colégios tal como alguns aspectos da Reforma em curso na Finlândia Reforma correspondem a uma "modernização" do pensamento educativo introduzindo uma dimensão de globalidade e mobilização integrada e contextualizada dos saberes aprendidos de forma mais compartimentada nas diferentes disciplinas dando-lhes um sentido que potenciará a motivação e a aprendizagem e aquisição de uma formação global não segmentada que actualmente se requer.
Neste processo a autonomia das escolas assume um papel essencial pois permite que, mantendo o currículo nacional, se possam construir projectos que traduzam especificidades contextuais e, portanto, com maior potencial de impacto, motivação e aprendizagem.
Numa sintética abordagem comparativa com a política educativa em Portugal diria que a visão sobre educação e escola que informa estas mudanças está longe do que, do meu ponto de vista informou nos últimos anos a política educativa em Portugal.
A estrutura curricular actual assenta em programas demasiados extensos, excessivamente prescritivos e na definição de metas curriculares que, na forma como estão formuladas, fazem correr o sério risco de que o ensino se transforme na gestão de uma espécie de "check list" das metas estabelecidas implicando a impossibilidade de acomodar as diferenças, óbvias, entre os alunos, os seus ritmos de aprendizagem.
Acontece ainda que o nosso sistema se encaminhou no sentido de uma hipervalorização da avaliação externa em detrimento da avaliação de natureza mais formativa. A avaliação externa é imprescindível mas não pode tornar-se o tudo na vida da escola. Veremos o impacto de mudanças recentes que sendo num caminho mais ajustado merecem alguma reserva quanto ao calendário quer na introdução da avaliação externa a meio dos ciclos de estudo.
Uma nota ainda para algumas referências identificadas como base do projecto de mudança na Catalunha como na Finlândia, "a questão do clima de sala de aula", o entendimento das escolas como "comunidades de aprendizagem"", "a importância da "alegria de aprender"", "a cooperação entre alunos e a sua autonomia" ou "aprender a aprender" que são identificados como "objectivos chave" e que, do meu ponto de vista, são isso mesmo, "aspectos chave".
No entanto, é minha convicção que por cá ainda teremos muita gente, já não Nuno Crato enquanto Ministro, que considerará tais "objectivos chave" como um típico discurso "eduquês" (seja lá isso o que for) e, como tal, identificados como uma fonte do mal, algo sem sentido.
Finalmente uma chamada de atenção para o entendimento na Finlândia de que as reformas em educação se devem processar regularmente, de forma participada, avaliada, com ciclos de vida para além dos ciclos político-eleitorais.
Em Portugal, a educação é um terreno altamente permeável e apetecível para as lutas de poder e controlo da partidocracia vigente o que lhe retira serenidade e em que as mudanças são constantes, inconsistentes e à deriva.
Não conseguiremos fazer melhor?

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