quarta-feira, 18 de maio de 2016

CONTAR HISTÓRIAS ÀS CRIANÇAS

No seu artigo de ontem no I o Professor Mário Cordeiro aborda uma matéria que lamentavelmente vai perdendo atenção e uso, contar histórias às crianças designadamente no tempo da deita. Trata-se como sempre de uma leitura estimulante e que se recomenda.
Umas notas a propósito.
Na verdade, o contar de histórias aos mais novos tem vindo, creio, a cair em desuso, quer em casa quer, sobretudo, nos espaços escolares. Essa coisa mágica de ter uns olhos de miúdo(s) presos no nosso rosto ao contar uma história parece coisa ultrapassada e pouco interessante.
A natureza prescritiva e normativa dos currículos, a sua excessiva extensão e intermináveis metas, a obsessão com resultados, exames e competição bem como os estilos de vida familiares contribuem para que contar e ouvir histórias seja visto como algo de inútil, coisa antiga e incompatível com os tempos modernos.
O que conta verdadeiramente, defende muita gente, são os “saberes estruturantes e instrumentais”, não essa coisa “romântica” da imaginação, criatividade e magia de ouvir e contar uma história. Também é importante que se saiba que as histórias podem ter um papel muito relevante no contexto global das aprendizagens.
Não o aproveitando …perdemos todos.
Deixem que lhes conte uma história já que neste espaço não tenho a pressão do currículo e das metas.
Era uma vez um professor, bom, já não era bem um professor porque, sendo velho e tendo havido alguém que se esqueceu de o mandar embora, ainda vinha todos os dias para escola só para contar histórias aos miúdos, dizia ele.
Não tinha família que por ele esperasse, esperava ele que os alunos viessem às histórias quando não tinham aulas a sério. E eles vinham.
As histórias que contava eram estranhas, passavam-se sempre no futuro, Nunca começavam por "Era uma vez ..", começavam por "Um dia lá mais à frente ...". Falavam de pessoas que os miúdos haveriam de conhecer, das coisas que haveriam de fazer, das terras onde haveriam de ir, das coisas que iriam aprender, de coisas difíceis que iriam encontrar, de coisas muito bonitas e, às vezes feias, que iriam acontecer, enfim, a partir do que eles já sabiam, mostrava-lhes o que ainda desconheciam. Era assim como se fossem histórias de adivinhar e os miúdos gostavam e sempre queriam continuar a ouvir.
Eles só não sabiam que o Professor Velho, de vez em quando, em vez de ir para casa onde não tinha ninguém, ia num instante espreitar o futuro.
Assim podia ajudá-los a chegar lá.
É também o papel das histórias.

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