No seu artigo de ontem no I o
Professor Mário Cordeiro aborda uma matéria que lamentavelmente vai perdendo
atenção e uso, contar histórias às crianças designadamente no tempo da deita. Trata-se como sempre de uma leitura
estimulante e que se recomenda.
Umas notas a propósito.
Na verdade, o contar de histórias
aos mais novos tem vindo, creio, a cair em desuso, quer em casa quer,
sobretudo, nos espaços escolares. Essa coisa mágica de ter uns olhos de
miúdo(s) presos no nosso rosto ao contar uma história parece coisa
ultrapassada e pouco interessante.
A natureza prescritiva e
normativa dos currículos, a sua excessiva extensão e intermináveis metas, a
obsessão com resultados, exames e competição bem como os estilos de vida
familiares contribuem para que contar e ouvir histórias seja visto como algo de
inútil, coisa antiga e incompatível com os tempos modernos.
O que conta verdadeiramente,
defende muita gente, são os “saberes estruturantes e instrumentais”, não essa
coisa “romântica” da imaginação, criatividade e magia de ouvir e contar uma
história. Também é importante que se saiba que as histórias podem ter um papel
muito relevante no contexto global das aprendizagens.
Não o aproveitando …perdemos
todos.
Deixem que lhes conte uma
história já que neste espaço não tenho a pressão do currículo e das metas.
Era uma vez um professor, bom, já
não era bem um professor porque, sendo velho e tendo havido alguém que se
esqueceu de o mandar embora, ainda vinha todos os dias para escola só para
contar histórias aos miúdos, dizia ele.
Não tinha família que por ele
esperasse, esperava ele que os alunos viessem às histórias quando não tinham
aulas a sério. E eles vinham.
As histórias que contava eram
estranhas, passavam-se sempre no futuro, Nunca começavam por "Era uma vez
..", começavam por "Um dia lá mais à frente ...". Falavam de
pessoas que os miúdos haveriam de conhecer, das coisas que haveriam de fazer,
das terras onde haveriam de ir, das coisas que iriam aprender, de coisas
difíceis que iriam encontrar, de coisas muito bonitas e, às vezes feias, que
iriam acontecer, enfim, a partir do que eles já sabiam, mostrava-lhes o que
ainda desconheciam. Era assim como se fossem histórias de adivinhar e os miúdos
gostavam e sempre queriam continuar a ouvir.
Eles só não sabiam que o
Professor Velho, de vez em quando, em vez de ir para casa onde não tinha ninguém,
ia num instante espreitar o futuro.
Assim podia ajudá-los a chegar
lá.
É também o papel das histórias.
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