Como ontem foi anunciado pelo ME,
a partir do próximo ano e em substituição do ensino vocacional, será posto em
prática um programa de natureza tutorial destinado a alunos com 12 anos e duas
ou mais retenções.
O programa é inspirado numa iniciativa
holandesa “Too Young to Fail” e pressupõe quatro horas de apoio semanal a
grupos de 10 alunos recorrendo preferencialmente a docentes com horários
incompletos diminuindo o impacto financeiro da medida.
Segundo o Secretário de estado,
João Costa, o programa de tutoria a desenvolver "É apoio ao estudo mas
também apoio socioemocional, apoio à relação com a escola, que é muitas vezes o
que falha", o professor tutor será a "referência" adulta que
parece faltar a muitos alunos.
Como sempre tenho afirmado, os
alunos que experimentam dificuldades e insucesso não precisam de ensino
vocacional como resposta imediata, precisam de apoios adequados e suficientes e
trajectos diferenciados para o seu percurso escolar mas a acontecer na altura
certa, final do básico, início do secundário.
Nesta perspectiva o programa tutorial anunciado parece-me um dispositivo muito interessante e com alguma proximidade
ao que em algumas comunidades tem sido desenvolvido com bons resultados no
âmbito da Associação EPIS. Tem a vantagem de ser desenvolvida pela equipa da
escola e não por recursos exteriores ao sistema educativo e, como tal,
inexistentes em todas as escolas.
No entanto, e sem ser pessimista,
creio que as quatro horas semanais com 10 alunos para um programa de tutoria
com o perfil de intervenção definido e que julgo adequado, parecem insuficientes no
sentido de possibilitar resultados significativos.
Quem conhece a realidade das
escolas e as problemáticas complexas dos alunos em insucesso, com desmotivação,
desregulação de comportamento, ausência de projecto de vida, falta de
enquadramento e suporte familiar, lacunas graves nos conhecimentos escolares de
anos anteriores, etc. quase sempre presentes percebe a dificuldade de reverter,
para usar um termo em voga, o seu caminho escolar.
À luz do que me parece ser um trajecto
de defesa da efectiva autonomia das escolas, preferia que, dando o ME
orientação e a possibilidade de gerir e alocar recursos a estes programas, que
fossem as escolas a organizar os seus programas de tutoria, definindo
destinatários, professores e técnicos envolvidos, tempos de realização e
objectivos a atingir.
Caberia, evidentemente, às
escolas e ao ME a regulação e acompanhamento dos programas e a sua avaliação.
No entanto, vamos a ver como irá
desenvolver-se o programa de tutoria que de facto me parece uma boa iniciativa.
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