Como aqui há dias escrevi, “de há
uns tempos para cá instalou-se de forma mais generalizada o recurso a “Segundo
um estudo …”, “De acordo com um estudo …”, “Foi divulgado um estudo que …” ou a
outras variações do mesmo tema, para afirmar ideias ou opiniões. A educação não
escapa a este tipo de funcionamento.
Neste espaço faço-o com alguma
frequência, também.
Mais recentemente, importa ir actualizando,
deixámos de referir os estudos e passamos a usar a “evidência”, ou seja,
“Segundo a evidência ...”, “De acordo com a evidência …”, “A evidência mostra
…), etc.
O que me parece curioso é que se
mantém a tentação de com alguma frequência se construir, interpretar e divulgar
os estudos para mostrar … a evidência desejada.
Na educação, também”.
Estas notas recuperadas vêm a
propósito de mais um estudo curioso. Um trabalho realizado pelo departamento de
Economia do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) conclui que nas turmas em
que os alunos não usam computadores nas salas de aula os alunos obtêm melhores
resultados do que em turmas em que podem usar as novas tecnologias de forma
aberta ou com alguma restrição turmas que podem recorrer parcial ou totalmente
a tecnologia.
A utilização deste
tipo de dispositivos e tecnologias em sala de aula é objecto frequente de discussões acesas
entre professores e investigadores, sendo certo que o seu uso tem vindo a ser
incrementado sendo, aliás, um recurso essencial para alguns alunos com necessidades especiais.
Curiosamente, no Volume V do
Relatório PISA 2012, era evidenciada uma relação entre o desempenho na
resolução de problemas e a presença do computador na sala de aula, sugerindo os
dados que a relação é negativa, ou seja, o uso do PC não faz aumentar a
capacidade de resolução de problemas.
Esta "constatação", do
meu ponto de vista e considerando o que o Relatório refere (pg. 73 e
seguintes), dever ser considerada com precaução pois não sabemos como é
"usado" o PC na sala de aula, ou seja, dizer que se usa é curto para
saber em que termos, em que actividades, com que intensidade, com que
objectivos, etc. Só com dados desta natureza seria possível estabelecer uma
relação sólida entre o uso do PC e das suas potencialidades na sala de aula e
os resultados na resolução de problemas.
No entanto, também temos
evidência, lá está, que mostra vantagens no uso das tecnologias pelo que a
discussão está em aberto.
Como já tenho afirmado,
considerando o que se sabe em matéria de desenvolvimento das crianças e
adolescentes, dos processos de ensino e aprendizagem e da sua complexa teia de
variáveis, das experiências e dos estudos neste universo, mesmo quando parece
contraditórios entendo que:
1 – O contacto precoce com as
novas tecnologias é, por princípio, uma experiência positiva para os miúdos,
para todos os miúdos, se considerarmos o mundo em que vivemos e no qual eles se
estão a preparar para viver. Nós adultos estamos a pagar um preço elevado pela
iliteracia, os nossos miúdos não devem correr o risco da iliteracia
informática. Para muitos miúdos foi a única forma de acederem a estes
dispositivos, conheço várias situações
2 –Do ponto de vista expresso
acima, o Programa Magalhães e o e-escola foram iniciativas interessantes. Existiram
erros, teve propaganda política, teve marketing a mais, sim teve isso tudo como
é habitual mas, creio, o princípio é positivo.
3 – O computador na sala de aula
é mais uma ferramenta, não é A ferramenta, não substitui a escrita manual, não
substitui a aprendizagem do cálculo, não substitui coisa nenhuma, é “apenas”
mais um meio ao dispor de alunos e professores para ensinar e aprender e
agilizar o acesso a informação. Em termos provocatórios, por vezes afirmo que o
computador é apenas um lápis mais sofisticado.
4 – É preciso evitar o
deslumbramento provinciano do novo-riquismo com as tecnologias, reafirmo, são
apenas ferramentas que a evolução nos disponibiliza e não algo que nos domina e
é visto como uma panaceia.
5 – O que dá qualidade e eficácia
aos materiais e instrumentos que se utilizam na sala de aula não é a tanto a
sua natureza mas, sobretudo, a sua utilização, ou seja, incontornavelmente, o
TRABALHO DO PROFESSOR é uma variável determinante. Posso ter um computador para fazer todos os dias a mesma
tarefa, da mesma maneira, sobre o mesmo tema, etc. Rapidamente se atinge a
desmotivação e ineficácia, é a utilização adequada que potencia o efeito as
capacidades dos materiais e dispositivos.
6 – Para além de garantir o
acesso dos miúdos aos materiais é fundamental disponibilizar a formação e apoio
ajustados aos professores sem os quais se compromete a qualidade do trabalho a
desenvolver bem como, evidentemente, assegurar as condições exigidas para que o
material possa ser rentabilizado.
7 – Finalmente, como em todas as
áreas, é imprescindível avaliar o trabalho realizado, única forma de garantir a
sua qualidade.
Ponto.
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