No Público de hoje divulga-se o
bom trabalho desenvolvido numa escola de uma aldeia do concelho de Santarém que
é composta por alunos do 1º ciclo a frequentar os diferentes anos de
escolaridade, do 1º ao 4º.
Esta turma é uma das 226 que existem
com diferentes anos de escolaridade segundo os dados recentes e de acordo com
CNE são um risco para o sucesso na aprendizagem.
Nesta turma, devido às
estratégias adoptadas pelo professor titular e pelo Agrupamento o trabalho tem
sido bem-sucedido.
Ainda bem que assim é.
Algumas notas.
Em primeiro lugar sublinhar o
trabalho do professor a variável individual mais contributiva para o sucesso do
trabalho dos alunos e que tantas vezes é esquecida a ver pelos tratos sofridos
pelos docentes e pelas suas condições de trabalho.
Em segundo lugar sublinhar os
dispositivos de apoio estruturados pelo Agrupamento no exercício da sua
autonomia apesar das dificuldades e constrangimentos conhecidos. Mais autonomia
melhor trabalho, é assim na generalidade dos sistemas educativos. No entanto,
falar recorrentemente de autonomia não é o mesmo que promover, de facto, a
autonomia de escolas e agrupamentos, matéria onde há muito que fazer.
É ainda relevante que a turma tem
18 alunos e não os 26 que a lei define e que o encerramento das escolas e a
concentração de alunos nos centros educativos pode potenciar.
Uma nota ainda para relevar o
recurso pelo docente da turma ao trabalho entre os alunos como forma de melhor
gerir e diferenciar a diversidade do grupo. Na verdade, o aluno pode e deve ser
também um recurso para a “ensinagem” e não apenas um destinatário da
aprendizagem.
No entanto, importa não esquecer
que existem ainda constrangimentos importantes no 1º ciclo que aumentam as
dificuldades sentidas em muitas escolas no trabalho com turmas do 1º ciclo de
aluno em diferentes anos de escolaridade.
Para além do número de alunos por
turma que nem sempre tem a dimensão desta escola, temos as metas curriculares
que, tal como estão definidas e não por existirem, burocratizam o trabalho dos
docentes, são excessivas, prescritivas pelo que dificultam seriamente a
acomodação da diversidade dos alunos.
Acresce ainda a disparidade e modelos de resposta no trabalho dirigido a alunos com necessidades educativas especiais que leva à
existência de escolas com unidades especializadas de diferentes naturezas em
que os professores de educação especial se concentram e escolas
em que as turmas têm mais alunos com NEE do que está determinado legalmente e se
deparam com falta de apoios adequados e suficientes.
Na verdade, a existência de
alunos de diferentes anos de escolaridade na mesma turma não tem que necessariamente
ser um problema inultrapassável e com consequências negativas inevitáveis. Mas
é bom que que se assegurem as condições necessárias.
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