Os professores da minha escola,
quase todos os professores da minha escola, gostavam muito de nos ensinar. Era
para sermos alguém, diziam.
Diziam-me para pintar um quadrado
de vermelho, eu gostava de pintar um triângulo de azul. Parece que só se pode
pintar o que nos dizem, da cor que nos dizem.
Diziam-me que a minha árvore
estava mal desenhada porque as árvores não são assim como a minha. Era assim
que eu gostava de desenhar árvores.
Diziam-me para escrever frases
com umas palavras. Eu gostava de escrever frases com outras palavras.
Diziam-me para escrever um
trabalho sobre um assunto. Eu gostava de escrever as histórias que inventava
para contar aos meus amigos.
Diziam-me para ler aquele livro.
Eu gostava de ler uns livros que descobria com o Professor Velho na biblioteca.
E em todo o tempo da minha escola
me disseram exactamente o que tinha de fazer, como tinha de fazer, o que tinha
de saber, quando tinha de saber, o que tinha de pensar, como tinha de pensar,
do que deveria gostar, ou seja, ser alguém, repetiam.
E assim fiz, sou alguém.
Ontem, vinha na rua e alguém se
me dirigiu, “Desculpe, importa-se de nos dar a sua opinião sobre …”.
Em pânico, interrompi a pessoa.
Há tanto tempo que sou alguém que não pensa.
Sem comentários:
Enviar um comentário