sexta-feira, 7 de agosto de 2009

O HOMEM QUE VIVEU A DESTEMPO

Era uma vez um homem que viveu a destempo, isto é, nunca estava no tempo. Ora andava adiantado, ora andava atrasado.
Começou cedo a não acertar com o tempo. Nasceu quando ainda não o esperavam e não falou quando era o tempo de falar. Andou na escola, mas não acompanhava o tempo, umas vezes precisava de mais, outras vezes de menos tempo para aprender o que tinha de ser. Gastava tempo em coisas a que ninguém na sua idade se entrega muito, por exemplo, tinha por hábito sentar-se a um canto e ficar horas com ar de pensador. Estranhamente gostava de coisas que não eram do tempo, ou porque já tinham passado ou porque ainda não tinham chegado.
Encontrou um trabalho que realizava no tempo contrário ao da maioria dos outros trabalhos, escrevia livros à noite. Casou fora do tempo e, naturalmente, foi pai depois do tempo, no tempo em que muitos já são avós. Ao longo de toda a vida o seu comportamento nunca era que o mais habitualmente se esperaria no seu tempo, falava quando os outros achavam que era tempo de ouvir, ouvia quando os outros achavam que era tempo de falar, fazia quando os outros achavam que era tempo de parar, parava quando os outros achavam que era de fazer. Por tudo isto, as pessoas sempre o acharam um tipo estranho.
Quando partiu de vez, alguém de entre os que o acompanhavam e que o conhecia disse, “Nem parecia um homem deste tempo”. Em seguida e ao mesmo tempo, todas as pessoas voltaram para o seu tempo, o mesmo tempo.

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