quarta-feira, 5 de agosto de 2009

ESPECTÁCULO INDECOROSO

Não obstante as múltiplas vozes, quase sempre fora dos aparelhos partidários, que clamam por uma urgente reforma do sistema político, a partidocracia instalada não está, obviamente, interessada na mudança. A consequência é a degradação da qualidade da democracia, o afastamento dos cidadãos e níveis baixíssimos de confiança e credibilidade da classe política.
Este episódio indecoroso da constituição das listas para as legislativas é apenas mais um bom exemplo. Parece consensual a ideia de que a esmagadora maioria dos eleitores não lê e analisa os programas eleitorais dos diferentes partidos. Provavelmente também desconhecerá as pessoas em quem vai votar e que o partido determinou serem os seus “representantes” e que, exceptuando as figuras do costume, são desconhecidos das pessoas e, muitas vezes, distantes dos contextos que irão “representar”.
Temos assim uma situação no mínimo curiosa. Votamos um programa que desconhecemos e votamos para nossos “representantes” pessoas igualmente desconhecidas.
A construção das listas partidárias, apesar da retórica da competência e do mérito, não passam de um exercício de distribuição de lugares e de contabilidade de apoios que assegurem paz e sossego às lideranças, ou seja, a ausência de voz própria e a dependência do lugarzinho traduzidos no braço levantado à voz do dono são os garantes da manutenção da tranquilidade do partido e dos líderes que assim estão disponíveis para a missão que os trouxe ao mundo, governar-nos. Esta situação, já estrutural no nosso sistema político, provoca-me a náusea, sobretudo quando oiço falar nos eleitos “representantes dos cidadãos”.
Por tudo isto, ou se encontra capacidade de regeneração, e creio que só fora da órbita partidária isso poderá acontecer, ou estamos condenados a esta apagada e insultuosa tristeza.

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