segunda-feira, 31 de agosto de 2009

A SERENIDADE DO TI JAIME

Este finalzinho de Agosto, com as costumeiras referências ao fim das férias anuncia o regresso à lida. Este ano, para além das rotinas de sempre, temos como factores de perturbação, duas campanhas eleitorais, a crise com as respectivas oscilações e efeitos e, naturalmente, a gripe A.
Antecipa-se um Outono frenético. É evidente que mesmo sem estes pouco habituais factores, a vida da maioria de nós tem agitação a mais e vida a menos
Quando penso neste tipo de coisas, poucas vezes porque, lá está, não há muito tempo, lembro-me do Ti Jaime. O Ti Jaime, meu tio-avô, era a pessoa mais serena que eu conheci. Vivia numa aldeia pequenina, o Alvaiade, no concelho de Vila Velha de Ródão, donde saiu um dos ramos da família. Já o conheci, como se costuma dizer, entrado na idade, homem alto, seco, olhos claros e com um brilho que não deixava de se notar.
Lamentavelmente o convívio com o Ti Jaime não foi tão regular como desejaria mas guardo a serenidade das falas,
Como diz Pennac, a maior parte das pessoas fala como se esteja permanentemente a tentar vender algo mas o Ti Jaime só falava, serenamente, contava as histórias, falava da vida dele, da família espalhada, da aldeia, dos conselhos que lhe pediam, era um homem respeitado e a quem os vizinhos recorriam com frequência. A casa e as fazendas sempre impecavelmente tratadas com a ajuda da Ti Laurinda e sempre com todo o tempo para uma conversa acompanhada por um fantástico e típico queijo picante, umas azeitonas e, claro, um copo. Não acontecia muitas vezes durante o ano e há já uns anos que o Ti Jaime partiu, mas aqueles tempos, serenos, eram tempos que não se esquecem. Eu acho que o Ti Jaime, sem a gente dar por isso, parava os relógios, e, por isso, o tempo não tinha pressa, era tranquilo.
Quando for velho, mais velho, quero ser como o Ti Jaime, sereno.

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