No Público encontra-se uma peça sobre o papel das emoções
nos processos educativos acentuando a importância do desenvolvimento da chamada
“inteligência emocional”. Confesso que com alguma frequência muito do que vejo
escrito e afirmado me suscita algumas reservas, quer pela visão mágica com que
é informado, quer pela regular apresentação de um receituário ou programa que
garante “inteligência emocional”.
No entanto a importância e actualidade destas questões leva-me a retomar algumas
notas.
As alterações nos estilos de vida, nos valores sociais,
culturais, económicos, etc., nos modelos de desenvolvimento económico e
consequente visão política e as suas consequências nas políticas educativas
parecem ter criado um tempo em que emerge a necessidade de “trabalhar” as
emoções nos contextos educativos.
Os climas sociais e de aprendizagem em diferentes escolas e
salas de aula nem sempre são particularmente amigáveis para todos os alunos, mas também para professores como
múltiplos estudos evidenciam.
Talvez tenhamos que reflectir sobre isto e retomar coisas
velhas, nada “inovadoras”, nada "revolucionárias", nenhum “novo
paradigma”, a educação escolar é estruturada e alimentada pela relação e a
relação, para que exista e seja positiva, tem como ingrediente … a emoção. Nas
minhas conversas por aí sobre estas coisas da educação desafio muitas vezes
pais ou professores a recordarem muito brevemente professores de quem guardam
boas memórias. Quando lhes pergunto porquê, as justificações remetem muito
significativamente para a relação que com eles tiveram, para além do que com
eles aprenderam das “coisas da escola”.
Como dizia em cima, a educação escolar, a acção do
professor, tem esse princípio fundador, assenta na relação que se
operacionaliza na comunicação. Também por isso são também preocupantes os
tempos que vivemos em que os professores têm pouco tempo para comunicar, para
conversar com os alunos e as emoções entram em turbulência e descontrolo.
Também a pressão para os resultados, a natureza dos
conteúdos e gestão curriculares ou o número de alunos por turma por exemplo,
dificultam essa relação. O professor “fala com o programa”, a maioria dos
alunos entende, outros não e com esses é preciso falar, mas … para os mandar
calar ou até sair. Há pouco tempo para conversar, para “cativar”, como diria
Saint-Exupéry.
Por isso tantas vezes afirmo que os professores, tanto ou
mais do que ensinar o que sabem, ensinam o que são. Quando nos lembramos com
ternura e admiração de alguns professores é pelo que eles eram e nem sempre
pelo que nos ensinaram apesar da importância que tenha tido.
A este propósito uma pequena história que vivi e que por
vezes aqui refiro. Há uns tempos, num trabalho com professores numa cidade do
interior, uma Professora, das grandes, contava que tinha uma experiência muito
interessante com uma turma CEF, as dos "alunos de segunda" como
muitas vezes são vistas. A professora comentava com os miúdos como estava
satisfeita com as mudanças positivas que eles apresentavam e perguntava a que
se deviam.
Um dos miúdos, o "chefe", respondeu "sabe,
boceses gostam da gente, falam com a gente e a gente gosta de boceses".
Quando nos contou isto a professora não escondeu uma lágrima.
O Mestre João dos Santos quando afirmava que alguém tinha
sido seu professor justificava, "porque foi meu amigo".
São assim os professores que nos marcaram de forma positiva,
ensinam-nos o que são, não só o que sabem como acima escrevi.
Sendo certo que precisamos de ajustamentos regulares no que
fazemos, no como fazemos e para que fazemos, não “inovemos” tanto, não
queiramos tantos “novos paradigmas”, não "mudemos" tudo pela ilusão
mágica da mudança.
Criemos, apenas, o tempo e o modo para que nas salas de aula
os professores e os alunos, todos os alunos, tenham o tempo e a circunstância que lhes permita
comunicar, entre si, com a razão e com a emoção. Irão aprender e serão gente de
bem.
2 comentários:
Parabéns, Professor, pelos textos que escreve sobre o Ser e Estar em Educação.
Para ser professor há que ter paixão por aquilo que fazemos, ouvir os alunos e percecionar o que cada um precisa que lhe demos.Não é tarefa fácil, mas felizes daqueles professores que na sua missão nobre daquilo que ensinam, ficam sempre a sonhar a aventura para o dia seguinte.
Felizes daqueles que adoram ver o brilho dos olhitos dos seus alunos, a cumplicidade que travam com eles, sentindo a utilidade da sua partilha diária, numa relação pedagógica são e construtiva.
Obrigada pelas palavras intensas e profundas que dedica aos Professores.
Um abraço,
Manuela Espadinha
Olá Manuela, obrigado, bom trabalho.
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