No JN encontra-se uma peça sobre a inquietante questão de
crianças e adolescentes desaparecidas em Portugal. Nos últimos anos tem-se
verificado uma média de 1400 crianças desaparecidas por ano. Apesar de alguns
casos envolverem situações de crime, felizmente a esmagadora maioria são
rapidamente encontradas, quase sempre por sua iniciativa. No entanto, existem
crianças e adolescentes cujo desaparecimento envolve algum tipo de crime.
Lamentavelmente, nem
sempre os processos decorrem assim, recordemos as tragédias mais mediatizadas
que envolveram o Rui Pedro desaparecido há mais de 20 anos em Lousada no norte
de Portugal e a Maddie McCann em 2007 no Algarve, dos quais nada se sabe sobre
o que lhes terá acontecido.
De há uns anos para cá tem sido feito um esforço nacional e
internacional no sentido de aumentar a eficácia na abordagem a situações desta
natureza bem como dedicar maior atenção aos factores de risco de que a título
de exemplo se citam as redes sociais, que não podendo, obviamente, ser
diabolizadas, apresentam alguns riscos que não devem ser negligenciados.
Acresce a tragédia que envolve o desaparecimento de crianças no âmbito da crise
dos refugiados e assume proporções alarmantes constituindo uma acusação
fortíssima à mediocridade das lideranças mundiais e à ineficácia dos
dispositivos de defesa e apoio aos grupos mais vulneráveis
Merece ainda registo o aumento significativo de crianças
desaparecidas através do rapto parental em contexto de separações familiares
com algo grau de litígio e que, evidentemente, implicam enorme sofrimento para
todos os envolvidos, em particular para os mais vulneráveis, as crianças.
Creio ainda que importa reconhecer a
existência de muitas crianças que parecem desaparecidas, mas que por estranho que
possa parecer … estão à vista. São situações com contornos menos trágicos e evidentes
e que por desatenção passam despercebidas.
Na verdade, existem muitíssimas crianças e jovens que vivem
à beira de pais e professores, de nós, e passam completamente despercebidas,
são as que designo por crianças transparentes, olhamos para elas, através
delas, como se não existissem. As razões são muitas e as mais vulneráveis
tornam-se mais transparentes. Não estando desaparecidas, estão abandonadas.
Algumas delas não possuem ferramentas interiores para lidar com tal abandono e
desaparecem, mantendo-se à nossa vista, no primeiro buraco que a vida lhes
proporcionar, um ecrã, outros companheiros tão abandonados quanto eles, o
consumo de algo que lhes faça companhia ou a adrenalina de quem nada tem para
perder.
Em boa parte das situações, por estes ninguém procura.
E alguns, por vezes, também se perdem de vez.
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