A partir de hoje e até sexta-feira iniciam-se as aulas. Esperemos
que comecem para todos os alunos, com todos os professores, este ano a situação é melhor, técnicos e
funcionários, em instalações adequadas e com os materiais necessários. Será? Talvez ainda não consigamos que este ano tenhamos "apenas" os sobressaltos próprios de um começo.
Algumas notas pensando fundamentalmente nos que como o meu neto Grande, o Simão, vão iniciar a sua viagem pela escolaridade obrigatória.
Para a maioria das crianças e apesar da sua experiência na
educação pré-escolar, a "entrada" na escola, ou melhor, o processo de
início da escolaridade obrigatória, continua a ser uma experiência fundamental
para o lançamento de um percurso educativo e formativo com sucesso.
Em muitíssimas circunstâncias da nossa vida, quando alguma
coisa não correu bem, é possível recomeçar e tentar de novo esperando ser
melhor sucedido. Todos nós experimentámos episódios deste tipo.
Pois bem, o processo de início da escolaridade envolve na
verdade um conjunto de circunstâncias irreversíveis, ou seja, quando corre mal
já não é possível voltar atrás e recomeçar com a esperança de que a situação vá
correr melhor. Por isso se torna imprescindível que o começo seja positivo.
Para isso, importa que seja pensado e orientado, que crie as rotinas, a
adaptação e a confiança em miúdos e em pais indispensáveis à aprendizagem e ao
desenvolvimento bem-sucedidos.
É fundamental não esquecer que os miúdos à
"entrada" na escola não estão todos nas mesmas condições, pelas mais
variadas razões, ambiente e experiências familiares, percurso anterior,
características individuais, etc. o que exige desde o início uma atenção
diferenciada que combata a cultura de que devem ser todos tratados da mesma
maneira, normalizando o diferente, que alguma opinião publicada e ignorante
defende. Muitas vezes os lugares da escola não conseguem acomodar a diversidade
dos alunos, a escola ainda não para todos com a mesma qualidade.
Antes de, com voluntarismo e empenho, se tentar ensinar aos
miúdos as coisas da escola é preciso, como sempre afirmo, dar tempo,
oportunidade e espaço para que os miúdos aprendam a escola. Depois de
aprenderem a escola estarão mais disponíveis para aprender então as coisas da
escola.
Vai começar o tempo do trabalho "a sério" e muitas
crianças irão rapidamente sentir-se pressionados para a excelência, o mundo não
é para gente sem sucesso. Vão ter que adquirir competências, muitas
competências, em variadíssimas áreas, porque é preciso ser bom em tudo e é
preciso preparar para o futuro, curiosamente, descuidando, por vezes, o
presente.
E vão também começar a perceber como anda confusa a cabeça
dos adultos, como estamos sem perceber o nosso próprio presente e com dificuldade
em antecipar o futuro, que será o presente deles.
Vão, parte deles, desaprender de rir, de se sentir bem e de
brincar, a coisa mais séria que sempre fizeram.
Vão ouvir cada vez mais frequentemente qualquer coisa como
"não podes fazer isso, já és uma mulherzinha, ou um homenzinho", como
se as mulherzinhas e os homenzinhos já crescidos não fizessem asneiras.
Vão conhecer tempos em que se sentem sós e perdidos com um
mundo demasiado grande pela frente.
Mais cedo ou mais tarde, alguns deles, vão sentir uma dor
branda que faz parte do crescer mas que, às vezes, não passa com o crescer.
Também sei, felizmente que a grande maioria vai continuar a
sentir-se bem, por dentro e para fora.
Pode parecer-vos um pouco estranho, mas gostava que a estes
miúdos que agora vão começar "a escola", tal como aos outros que já a
cumprem, lhes apetecesse "fugir para a escola" e que nós possamos ser
capazes de lhes dizer "Cresçam devagarinho, não tenham pressa".
É que depressa e bem, não há quem, como se costuma dizer.
Boa sorte e bom trabalho para alunos, professores, técnicos,
funcionários e pais.
PS - Procurei passar algumas destas ideias numa colaboração com o DN sobre o "primeiro dia" na escola.
PS - Procurei passar algumas destas ideias numa colaboração com o DN sobre o "primeiro dia" na escola.
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