quinta-feira, 12 de setembro de 2019

DOCENTES, UMA CLASSE ENVELHECIDA

Foi recentemente divulgado pela OCDE o relatório “Education at a Glance 2019”. Como é habitual apresenta um volume considerável de dados que justifica reflexão e, sobretudo, acção.
Uma primeira referência a um dado que tem vindo a ser progressivamente conhecido mas que, do meu ponto de vista, não parece estar a merecer a atenção que exige, o envelhecimento da classe docente. Não sendo nova a referência a situação é crítica e tem-se agravado pois, por várias razões, a entrada de novos docentes no sistema é pouco significativa e insuficiente para renovar o quadro.
Segundo o actual relatório apenas 1% dos docentes portugueses tem menos de 30 anos face aos 16% de 2005. Na fase final da carreira, 41% de docentes tem 50 anos ou mais face a 22% em 2005.
Mais uns dados retirados do relatório “Perfil do Docente”, produzido pela Direcção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência relativo ao ano 2016/2017 e base da informação da OCDE.
No universo da educação pré-escolar apenas 13 profissionais da rede pública têm menos de 30 anos, 0.1%, enquanto 6034 educadores de infância, 74% têm 50 ou mais anos. No 1º ciclo no sistema público, entre 24 435 docentes apenas 16 têm menos de 30 anos, 0.1% do total. Do outro lado, 38%, 9298 têm 50 ou mais anos.
No 2º ciclo, temos 19 398 docentes dos quais 872 têm menos de 30 anos, 4.5% e 10271 com 50 anos ou mais, 53%.
No 3º ciclo e secundário, em 63473 professores temos 290 com menos de 30 anos, 0.5%, e 30242 com 50 anos ou mais, 48%.
Um outro indicador, a idade média, mostra que na educação pré-escolar é de 52 anos, no 1º ciclo 47 anos, no 2º ciclo 50 anos e no 3º ciclo e secundário 49 anos.
Se considerarmos o grupo de professores com 40 anos ou mais, temos 96% na educação pré-escolar, 78% no 1º ciclo, 87% no 2º ciclo e 86% no 3º ciclo e secundário.
Ainda a OCDE, mas em 2018 no trabalho “Reviews of School Resources: Portugal 2018” sublinhava esta questão tal como têm feito sucessivos relatórios e estudos da Direcção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência ou do CNE. Como escrevi várias vezes a este propósito, num país preocupado com o futuro o cenário existente faria emitir, como agora se usa, um alerta vermelho e agir em conformidade. Retomo notas que, lamentavelmente, continuam actuais.
Ao perfil dos docentes profundamente inquietante em termos de idade acresce que como é reconhecido em qualquer país, a profissão docente é altamente permeável a situações de burnout, estado de esgotamento físico e mental provocado pela vida profissional, associado a baixos níveis de satisfação profissional.
Na verdade, este cenário só pode surpreender quem não conhece o universo das escolas, como acontece com boa parte dos opinadores que pululam na comunicação social perorando sobre educação e sobre os professores.
Este quadro é inquietante, uma população docente envelhecida e a revelar preocupantes sinais de desgaste.
Também se sabe que as oscilações da demografia discente não explicam a saída de milhares de professores do sistema, novos e velhos, como também não explicam a escassíssima renovação, contratação de docentes novos. Sem estranheza, no universo do ensino privado é bastante superior a presença de docentes mais jovens. Não esqueçamos ainda a deriva política a que o universo da educação tem estado exposto nas últimas décadas, criando instabilidade e ruído permanente sem que se perceba um rumo, um desígnio que potencie o trabalho de alunos, pais e professores. Acresce que sucessivas equipas ministeriais têm empreendido um empenhado processo de desvalorização dos professores com impacto evidente no clima das escolas e nas relações que a comunidade estabelece com estes profissionais.
Sabemos que os velhos não sabem tudo e os novos nem sempre trazem novidade. Mas também sabemos que qualquer grupo profissional exige renovação por várias razões incluindo emocionais, de suporte, partilha de experiência ou pela diversidade.
As salas de professores são cada vez mais frequentadas, quando há tempo para isso, por gente envelhecida, cansada e pouco apoiada que tantas vezes pergunta "Quanto tempo é que te falta?"
Com a previsível aposentação de milhares de professores num prazo relativamente curto teremos uma significativa necessidade de docentes. O problema é que também devido ao contributo de opinadores e por efeitos de algumas das políticas públicas em matéria de educação a profissão de professor tem perdido alguma capacidade de atracção. No entanto, no recente processo de candidatura ao superior registou-se um ligeiro acréscimo do número de candidatos aos cursos de formação de professores.
Seria desejável que não nos esquecêssemos que os sistemas educativos com melhor desempenho são também os sistemas em que os professores são mais valorizados, reconhecidos e apoiados.

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