João Ruivo em editorial do último
“Ensino Magazine “, "Educação e Ética"", aborda as relações entre educação e ética chamando a atenção
para o trabalho de Maria do Rosário Gambôa, "Educação, Ética e
Democracia".
Nos tempos que correm a reflexão
em torno das questões éticas é crítica e urgente.
Várias vezes aqui tenho referido
a imprescindível necessidade de olharmos para a nossa pegada ética também
altamente comprometedora da nossa qualidade de vida e desenvolvimentos.
Os comportamentos e valores que
genericamente mobilizamos têm, obviamente, uma consequência na qualidade ética
da nossa vida que não é despicienda. Os maus-tratos e negligência que dedicamos
aos princípios éticos mais substantivos provocam um empobrecimento e degradação
do ambiente e da qualidade de vida das quais cada vez parece mais difícil
recuperar.
As lideranças, hipotecando a sua
condição de promotores de mudanças positivas são fortemente responsáveis pelo
peso e impacto que esta pegada ética está a assumir.
No contexto da educação também a
dimensão ética é crucial.
A dimensão ética das políticas
públicas, a dimensão ética da acção educativa seja no ensinar e formar, seja no
aprender são pilares estruturantes da qualidade dessa acção.
Neste contexto, uma área que me tem
sido próxima dentro da educação, a chamada educação inclusiva, é um dos
melhores exemplos da importância de se considerar o seu enquadramento e robustez
ética.
Recorrendo a um autor que me é
caro, Biesta, podemos afirmar que a história da inclusão, do combate à exclusão
com diferentes formas e critérios, é história da democracia, a história dos
movimentos que lutaram pela participação plena de todas as pessoas na vida das
comunidades, incluindo, evidentemente a educação.
Na verdade, a educação inclusiva
e a equidade em educação não decorrem de uma moda ou opção científica, são
matéria de direitos pelo que devem ser assumidas através das políticas e
discutidas, evidentemente, na sua forma de operacionalizar.
O que se entende por educação
inclusiva também não pode ser entendido e operado ou legislado em modo “cada
cabeça, sua sentença” de forma avulsa pouco robusta conceptualmente numa
espécie de vale tudo em nome da inclusão que acaba por promover … exclusão.
Este cenário é eticamente inaceitável.
Importa que os contextos e
comunidades educativas nos quais as crianças e jovens em idade escolar devem
estar sejam capazes e tenham os apoios necessários e competentes para em cada
momento e em cada escola identificar e contrariar processos de insucesso e de
exclusão que se instalam pelas mais variadas razões, a deficiência é apenas uma
delas. A promoção da educação inclusiva passa por sermos todos reconhecidos
como sujeitos de direitos, por estar nos espaços comuns das comunidades, por aprender,
por participar nos processos educativos comuns e pertencer à comunidade
educativa e escolar.
No entanto, a realidade está para
além dos nossos desejos, os tempos que vivemos, apesar de alguns avanços e
muita retórica, ainda são tempos de exclusão, de competição, de desregulação ética
e de oscilação de valores que atingem, evidentemente, os mais frágeis, como é o
caso das crianças e jovens com necessidades educativas especiais e as suas
famílias.
A esmagadora maioria dos
professores é eticamente responsável, competente e empenhada nesse trabalho,
procurando desenvolvê-lo com qualidade, rigor e eficácia, sem facilitismos,
contrariamente ao que tantas vezes se afirma de forma ignorante.
Julgo que estamos mesmo num tempo
exigente em matéria de educação considerando também a sua dimensão ética.
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