sábado, 31 de agosto de 2019

HORIZONTES


Um dia destes ao caminhar pelo passadiço de madeira que dá acesso à praia, à minha frente ia uma gaiata de uns quatros anos ou cinco anos que levava o pai pela mão. Como estava já perto deu para ouvir o pai a chamar a atenção da miúda, "estás a ver, a praia está mesmo boa, sem ondas". A mocinha olhou lá para cima donde vinha a voz do pai disse qualquer coisa como, "mas eu não vejo a praia".
Achei engraçado, de facto, dada a altura dela, a praia ainda não estava no seu horizonte, só os mais altos a viam. Enquanto crescemos vamos esquecendo como a “altura” molda a perspectiva do mundo.
Sendo certo que se espera dos pais, dos mais altos, que possam ir antecipando e ajudando os mais miúdos a descobrir os horizontes que só vão enxergando à medida que crescem, muitas vezes não o conseguimos fazer. Algumas vezes, nem os mais altos enxergam horizontes.
Daí, provavelmente, a falta de horizontes que muitos miúdos experimentam na vida que carregam.

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