quarta-feira, 7 de agosto de 2019

COMPUTADORES E ESCOLA

Um outro conjunto de dados constantes no relatório "Educação em Números 2019", da Direcção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência pelo impacto nos processos educativos actuais prende-se com o parque informático das escolas.
Para além das queixas recorrentes sobre as dificuldades no acesso à net e a idade “sénior” de boa parte dos equipamentos o número tem sido revisto em baixa.
Quando foi distribuído o famoso (por boas e más razões), ano 2008/2009 conseguiu-se um rácio de um computador por alunos. A partir de 2011 começou a subir e em 17/18 é de 6.6.
Este quadro que é recorrentemente referido por docentes e direcções não surpreende.
Um trabalho da OCDE, “Measuring Innovation in Education”, divulgado já em 2019 mostrava que contrariamente ao que se passa com a generalidade dos países, em Portugal verificou-se um decréscimo do acesso dos alunos a computadores na escola.
Considerando o intervalo entre 2009 e 2015 o indicador de acesso dos alunos a portáteis subiu na generalidade dos países. Apenas o Japão e Portugal baixaram a percentagem, 5% no Japão e de 55% para 43% em Portugal.
No entanto, mais significativo e preocupante pois trata-se do período inicial da escolaridade, no 4º ano a percentagem de alunos com acesso a computadores ou portáteis nas aulas de leitura desceu de 47% em 2011 para 14% em 2016. A queda parece associada a ter terminado em 2011 o programa de distribuição dos “famosos” Magalhães.
O relatório da OCDE também sublinhava a importância deste recurso por parte das escolas públicas e o risco da falta de acesso poder associar-se ao agravamento das desigualdades em função da origem socioeconómica dos alunos que podem não compensar nos contextos familiares o acesso ao mundo digital. Os programas do ME de distribuição de computadores constituiram para muitas crianças a única forma de acederem a estes dispositivos, conheço várias situações.
Parece claro que as novas tecnologias, que já são velhas apesar da insistência na designação, não são a poção mágica para o ensino e aprendizagem. Os computadores ou tablets na sala de aula não promovem sucesso só pela sua existência. A forma como são utilizados por professores e alunos é que potencia a qualidade e os resultados desse trabalho. Aliás, o mesmo se pode dizer de qualquer outro recurso ou actividade no âmbito dos processos de aprendizagem.
No entanto, não podemos esquecer que múltiplos estudos e experiências valorizam este recurso nos processos de ensino e aprendizagem pelo que é importante garantir o acesso pela generalidade dos alunos.
Neste contexto e como já tenho afirmado, considerando o que se sabe em matéria de desenvolvimento das crianças e adolescentes, dos processos de ensino e aprendizagem e da sua complexa teia de variáveis, das experiências e dos estudos neste universo, mesmo quando aparentemente contraditórios, creio que:
1 – O contacto precoce com as novas tecnologias é, por princípio, uma experiência positiva para os alunos, para todos os alunos, se considerarmos o mundo em que vivemos e no qual eles se estão a preparar para viver. Nós adultos estamos a pagar um preço elevado pela iliteracia, os nossos miúdos não devem correr o risco da iliteracia informática.
2 – O computador/tablet na sala de aula é mais uma ferramenta, não é A ferramenta, não substitui a escrita manual, não substitui a aprendizagem do cálculo, não substitui coisa nenhuma, é “apenas” mais um meio, muito potente sem dúvida, ao dispor de alunos e professores para ensinar e aprender e agilizar o acesso a informação e conhecimento.
3 - O que dá qualidade e eficácia aos materiais e instrumentos que se utilizam na sala de aula não é a tanto a sua natureza mas, sobretudo, a sua utilização, ou seja, incontornavelmente, o trabalho dos professores é uma variável determinante. Posso ter um computador para fazer todos os dias a mesma tarefa, da mesma maneira, sobre o mesmo tema, etc. Rapidamente se atinge a desmotivação e ineficácia, é a utilização adequada que potencia o efeito as capacidades dos materiais e dispositivos.
4 - Para alguns alunos com necessidades especiais o computador pode ser mesmo a sua mais eficiente ferramenta e apoio para acesso ao currículo.
5 – Para além de garantir o acesso dos miúdos aos materiais é fundamental disponibilizar a formação e apoio ajustados aos professores sem os quais se compromete a qualidade do trabalho a desenvolver bem como, evidentemente, assegurar as condições exigidas para que o material possa ser rentabilizado.
6 – Finalmente, como em todo o trabalho educativo, são essenciais os dispositivos de regulação e avaliação do trabalho de alunos e professores.
7 – Tudo isto considerado a escola pública deve promover até ao limite a universalidade do acesso a estes dispositivos. Sim tem custos, mas a exclusão sai mais onerosa.
Como referi acima não eistem poções mágicas em educação por mais desejável que possa parecer a sua existência. No entanto, é importante garantir o acesso aos melhores recursos disponíveis a todos os alunos e a situação reportada pela DGEEC e pela OCDE pode ter implicações negativas.

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