Durante esta semana li no DN uma
entrevista muito rica de Rui Mariani, um homem com uma vida ligada à arte do
circo e que se apresenta como o primeiro domador de tigres em Portugal. O seu Circo
Mundial Mariani e o Circo Victor Hugo Cardinali, membro da família Mariani são
os grandes nomes dos espectáculos de circo em Portugal.
A sua história de vida é
aliciante e acordou em mim a relação ambígua que sempre mantive com o circo. Devo confessar que sempre tive, desde miúdo, uma
relação ambígua com o circo. Na verdade, muito do que me atraía nos diferentes
números do circo era, simultaneamente, o que me inquietava. Admirava os números
com animais mas achava que o que eles faziam não era “natural”, ria-me com os
palhaços mas, sem perceber porquê, achava-os tristes. Mas o momento alto da
minha inquietação vinha dos trapezistas. Aliás, trapezista foi também uma das
funções desempenhadas por Rui Mariani ilustrando a frequente polivalência nas
artes circenses.
Naquele tempo assistia à exibição espectacular dos
trapezistas com os olhos muito abertos, fascinado pela coragem e perícia
daquela gente que voava e, ao mesmo tempo, assustado com medo de que as mãos do
companheiro ou a barra do trapézio lá não estivessem, naquele preciso segundo
em que nada pode falhar e o trapezista voador precisa de se segurar. Não me
lembro de ter presenciado uma falha ou acidente
Agora … comecei a pensar que a vida
de muitos adolescentes e jovens me faz lembrar o número do trapézio. Voam, de
um poiso para o outro, atraídos e alimentados pela adrenalina do risco e do
desafio que dá sentido a uma existência, neste caso e frequentemente, sem
sentido.
Em cada dia, aumentam o risco, em
voos mais complicados e testando os limites, os seus e os de quem os rodeia.
À sua volta, muitos ficam
indiferentes, outros muitos condenam, alguns outros inquietam-se e ainda outros
muitos, também trapezistas, aplaudem.
No circo os trapezistas voam com
rede e os acidentes são raros, felizmente.
Os jovens com vidas de trapezista
quase nunca voam com rede. Os acidentes sérios são frequentes, falham os apoios
de vários lados que não surgem ou estão as mãos de alguém que se atrasou, não
percebeu a necessidade ou se atrasou.
Já conheci alguns.
Já conheci alguns.
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