No DN de hoje encontra-se um
trabalho sobre a evolução do número de escolas em nos últimos anos. Considerando,
educação pré-escolar, 1º, 2º e 3º ciclos do ensino básico e o secundário, com
base em dados do Relatório “Educação em Números 2019”, da Direção-Geral de
Estatísticas da Educação e Ciência, desde 2000/2001 até 2017/2018 foram
encerrados 8697 estabelecimentos, de 14 533 passaram para 5836.
A justificação é sempre atribuída
à quebra da natalidade mas parece-me caro que importa considerar as opções em
matéria de políticas educativas. Aliás, o número de estabelecimentos de ensino
particular tem subido ainda que ligeiramente, o que é interessante considerar. Algumas
notas.
Muitas das questões que se
colocam em educação, como noutras áreas, independentemente da reflexão actual,
solicitam algum enquadramento histórico que nos ajudem a melhor entender o
quadro temos no momento. Durante décadas de Estado Novo, tivemos um país
ruralizado e subdesenvolvido. Em termos educativos e com a escolaridade
obrigatória a ideia foi “levar uma escola onde houvesse uma criança”. Tal
entendimento minimizava a mobilidade e a abertura sempre evitadas. No entanto,
como é sabido, os movimentos migratórios e emigratórios explodiram e o interior
entrou em processo de desertificação o que, em conjunto com a decisão de
política educativa referida acima, criou um universo de milhares de escolas,
sobretudo no 1º ciclo, com pouquíssimos alunos. Como se torna evidente e nem
discutindo os custos de funcionamento e manutenção de um sistema que admite
escolas com 2, 3 ou 5 alunos, deve colocar-se a questão se tal sistema favorece
a função e papel social e formativo da escola. Creio que não e a experiência e
os estudos revelam isso mesmo. Parece pois ajustada a decisão de em muitas
comunidades proceder a uma reorganização da rede.
É também verdade que muitas vezes
se afirma que a “morte da escola é a morte da aldeia”. No entanto, creio que
será, pelo menos de considerar, que os modelos de desenvolvimento económico e
social promovem a litoralização e desertificação do interior. Apostas políticas
erradas não contrariam este processo, antes pelo contrário, promovem-no
fechando os equipamentos sociais, incluindo as escolas, uma das formas
evidentes de fixação das pessoas. Cria-se assim um ciclo sem fim, as pessoas
partem, fecham-se equipamentos, as pessoas não voltam ou continuam a partir.
A este movimento de
reorganização da rede escolar e fechamento de escolas associou-se uam outra opção política de risco, a construção dos
centros educativos e da constituição de mega-agrupamentos, que criou situações em
que as dimensões e características são fortemente comprometedoras da qualidade,
com potenciais riscos e consequências conhecidos e estudados, os
mega-agrupamentos tendem a produzir mega-problemas.
É também verdade que menos
escolas e agrupamentos e direcções unipessoais tornam também mais fácil o
controlo político de um sistema ainda altamente centralizado apesar da retórica
de autonomia. Este controlo é, naturalmente, uma tentação de sempre de qualquer
poder.
De há muito que se sabe que um
dos factores mais contributivos para o insucesso, absentismo e problemas de
disciplina escolar é o efectivo de escola. Não é certamente por acaso, ou por
desperdício de recursos, que os melhores sistemas educativos, lá vem a Finlândia
outra vez, mas também os Estados Unidos ou o Reino Unido procurando a
requalificação da sua educação, optam por estabelecimentos educativos que não
ultrapassam a dimensão média de 500 alunos. Sabe-se, insisto, de há muito, que
o efectivo de escola está mais associado aos problemas que o efectivo de turma,
ou seja, simplificando, é pior ter escolas muito grandes que turmas muito
grandes, dentro, obviamente dos limites razoáveis. É certo que o ME, sobretudo
a partir de Maria de Lurdes Rodrigues e com Nuno Crato, fez o pleno, aumenta o
número de alunos por escola e o número de alunos por turma o que leva à
“dispensa” de professores. O processo de redução do número de alunos por turma
foi iniciado e está em curso ainda que com alguma timidez.
É reconhecido que escolas muito grandes, com a presença de alunos com idades muito díspares, são
potenciadoras do risco de insucesso escolar e exclusão, absentismo, problemas
de indisciplina e outros problemas de natureza comportamental como bullying apesar
do esforço de professores, técnicos, funcionários, alunos e pais. A este
cenário ainda se junta com regularidade a insuficiência de recursos de
diferentes tipologias.
Acresce que são conhecidos casos
de distâncias grandes entre a residência dos miúdos e os centros escolares,
levando que devido à difícil gestão dos transportes escolares, os miúdos passem
tempos sem fim nos centros escolares, experiência que não é fácil, sobretudo
para os miúdos mais pequenos.
Em síntese, parece-me razoável
que algumas escolas, sobretudo do 1º ciclo, tenham sido encerradas mas o
recurso a critérios burocratizados e administrativos, como a análise simples do
número de alunos, levou a situações de sério compromisso da qualidade da
educação e mesmo da qualidade de vida de muitos alunos.
Seria fundamental a coragem e a
visão para outros caminhos até porque parece verificar-se alguma recuperação demográfica devida à subida na
taxa de natalidade que desejamos confirmada e continuada, bem como a um aumento
de crianças de famílias emigrantes.
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