sábado, 17 de agosto de 2019

DOS PROFESSORES


Mais cedo do que tem sido mais habitual já foram divulgadas as listas de colocação dos professores o que se saúda.
As más-línguas atribuirão esta situação à proximidade de eleições. Não acredito, primeiro porque tal seria inédito, não faz parte da praxis política em Portugal e, segundo, porque o ME já afirmou que tal se deveu “ao inexcedível empenho e trabalho das escolas e do Ministério da Educação, por ser ano em que não houve nem concursos extraordinários, nem concurso interno, e por não ter havido outras vicissitudes perturbadoras do procedimento”. Na verdade, a questão é que é possível ajustar procedimentos, o atraso não seria uma fatalidade.
Talvez seja desta que o ano lectivo se inicia sem grandes sobressaltos mas vamos ver o que passa quanto aos auxiliares de educação e aos técnicos especializados, muitos dos quais estão com a continuidade ameaçada com todas as implicações óbvias.
Os docentes colocados têm 72 horas para se apresentarem nas escolas e os não colocados farão parte das chamadas reservas de recrutamento podendo ser chamados a funções ao longo do ano. É também claro que os as necessidades das escolas estão para além dos lugares de quadro nesta matéria torna-se necessário melhorar até em nome da autonomia..
Os colocados em escolas diferentes terão mais tempo para a logística da mudança e os não colocados certamente baterão à porta dos centros de emprego.
Muitos destes são docentes com muitos anos de serviço e que têm provisoriamente desempenhado funções que correspondem a necessidades definitivas. Muitos destes professores vão vivendo projectos de vida adiados.
Raramente a profissão professor tem estado tanto em foco como nos últimos anos bem como a necessidade de defender a qualidade da escola pública sob ameaça significativa. Desencadearam-se múltiplas acções políticas que contribuíram para degradar a sua função, a sua imagem social e o clima e a qualidade do trabalho desenvolvido nas escolas.
Opções políticas assumidas e em curso têm contribuído para uma atenção continuadamente dirigida para a educação e para os professores. Essa atenção advém de boas e más razões. Não cabe aqui um balanço alargado o, e entendo que, tal como os miúdos, os professores não têm sempre razão, ninguém tem. No entanto, gostava de deixar algumas notas.
Em primeiro lugar importa sublinhar que ser professor no ensino básico e secundário por razões conhecidas e por vezes esquecidas, é hoje uma tarefa de extrema dificuldade e exigência que social e politicamente justifica o maior reconhecimento que nem sempre é evidente. Acresce que que como é sabido os docentes constituem uma classe profissional com uma média de idade extremamente elevada e com níveis preocupantes de exaustão e cansaço..
Não é fácil ser professor em algumas escolas que décadas de incompetência na gestão urbanística e consequente guetização social produziram.
Milhares de professores cumprem a sua carreira, muitos deles sem a possibilidade de desenharem projectos de vida para si quando são os principais responsáveis por lançar projectos de vida para os miúdos com quem trabalham. Nos últimos anos milhares de professores, de bons professores e professores necessários, foram constrangidos à reforma e muitos ao desemprego por uma política de contabilidade inimiga da educação pública e da qualidade.
Tantas vezes os professores são injustiçados na apreciações de muita gente que no minuto a seguir a dizer uma ignorante barbaridade qualquer, vai numa espécie de exercício sadomasoquista entregar os filhos nas mãos daqueles que destrata, depreendendo-se assim que, ou quer mal aos filhos ou desconhece os professores e os seus problemas.
Era desejável mas trata-se de pedir muito que a educação e os problemas dos professores não sejam objecto de luta política baixa e desrespeitadora dos interesses dos miúdos, mesmo por parte dos que se assumem como seus representantes.
Pensemos em como a forma como os miúdos, pequenos e maiores, vêem e se relacionam com os professores está directamente ligada à forma como os adultos os vêem e os discursos que fazem.
Pensemos finalmente nos professores que nos ajudaram a chegar ao que hoje cada um de nós é, aqueles que carregamos bem guardadinhos na memória, pelas coisas boas, mas também pelas más, tudo contribuiu para sermos o que somos.
A valorização social e profissional dos professores, em diferentes dimensões é uma ferramenta imprescindível a um sistema educativo com mais qualidade. Aliás, como sempre escrevo, uma das características dos sistemas educativos melhor considerados é, justamente, a valorização dos professores.

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