Mais cedo do que tem sido
mais habitual já foram divulgadas as listas de colocação dos professores o que
se saúda.
As más-línguas atribuirão esta
situação à proximidade de eleições. Não acredito, primeiro porque tal seria
inédito, não faz parte da praxis política em Portugal e, segundo, porque o ME já afirmou que tal se deveu “ao inexcedível
empenho e trabalho das escolas e do Ministério da Educação, por ser ano em que
não houve nem concursos extraordinários, nem concurso interno, e por não ter
havido outras vicissitudes perturbadoras do procedimento”. Na verdade, a questão é que é possível ajustar procedimentos, o atraso não seria uma fatalidade.
Talvez seja desta que o ano
lectivo se inicia sem grandes sobressaltos mas vamos ver o que passa quanto aos
auxiliares de educação e aos técnicos especializados, muitos dos quais estão
com a continuidade ameaçada com todas as implicações óbvias.
Os docentes colocados têm 72
horas para se apresentarem nas escolas e os não colocados farão parte das chamadas
reservas de recrutamento podendo ser chamados a funções ao longo do ano. É também claro que os as necessidades das escolas estão para além dos lugares de quadro nesta matéria torna-se necessário melhorar até em nome da autonomia..
Os colocados em escolas diferentes
terão mais tempo para a logística da mudança e os não colocados certamente
baterão à porta dos centros de emprego.
Muitos destes são docentes com
muitos anos de serviço e que têm provisoriamente desempenhado funções que
correspondem a necessidades definitivas. Muitos destes professores vão vivendo
projectos de vida adiados.
Raramente a profissão professor
tem estado tanto em foco como nos últimos anos bem como a necessidade de
defender a qualidade da escola pública sob ameaça significativa.
Desencadearam-se múltiplas acções políticas que contribuíram para degradar a
sua função, a sua imagem social e o clima e a qualidade do trabalho
desenvolvido nas escolas.
Opções políticas assumidas e em
curso têm contribuído para uma atenção continuadamente dirigida para a educação
e para os professores. Essa atenção advém de boas e más razões. Não cabe aqui
um balanço alargado o, e entendo que, tal como os miúdos, os professores não
têm sempre razão, ninguém tem. No entanto, gostava de deixar algumas notas.
Em primeiro lugar importa sublinhar que ser professor no ensino básico e secundário por razões
conhecidas e por vezes esquecidas, é hoje uma tarefa de extrema dificuldade e
exigência que social e politicamente justifica o maior reconhecimento que nem
sempre é evidente. Acresce que que como é sabido os docentes constituem uma
classe profissional com uma média de idade extremamente elevada e com níveis
preocupantes de exaustão e cansaço..
Não é fácil ser professor em
algumas escolas que décadas de incompetência na gestão urbanística e consequente
guetização social produziram.
Milhares de professores cumprem a
sua carreira, muitos deles sem a possibilidade de desenharem projectos de vida
para si quando são os principais responsáveis por lançar projectos de vida para
os miúdos com quem trabalham. Nos últimos anos milhares de professores, de bons
professores e professores necessários, foram constrangidos à reforma e muitos
ao desemprego por uma política de contabilidade inimiga da educação pública e
da qualidade.
Tantas vezes os professores são
injustiçados na apreciações de muita gente que no minuto a seguir a dizer uma
ignorante barbaridade qualquer, vai numa espécie de exercício sadomasoquista
entregar os filhos nas mãos daqueles que destrata, depreendendo-se assim que,
ou quer mal aos filhos ou desconhece os professores e os seus problemas.
Era desejável mas trata-se de
pedir muito que a educação e os problemas dos professores não sejam objecto de
luta política baixa e desrespeitadora dos interesses dos miúdos, mesmo por
parte dos que se assumem como seus representantes.
Pensemos em como a forma como os
miúdos, pequenos e maiores, vêem e se relacionam com os professores está
directamente ligada à forma como os adultos os vêem e os discursos que fazem.
Pensemos finalmente nos
professores que nos ajudaram a chegar ao que hoje cada um de nós é, aqueles que
carregamos bem guardadinhos na memória, pelas coisas boas, mas também pelas
más, tudo contribuiu para sermos o que somos.
A valorização social e
profissional dos professores, em diferentes dimensões é uma ferramenta
imprescindível a um sistema educativo com mais qualidade. Aliás, como sempre
escrevo, uma das características dos sistemas educativos melhor considerados é,
justamente, a valorização dos professores.
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