O ME decidiu reforçar o número de créditos horários para que
possa ser promovida pelas escolas no incremento da actividade desportiva
relativa a diversas modalidades. A decisão traduz-se 200 horas de aulas por
semana a usar na prática e desenvolvimento do desporto escolar.
Espero que esta iniciativa seja regulada e avaliada de modo
a potenciar o seu potencial impacto pois a necessidade é óbvia. O conhecimento de muitas iniciativas neste
universo, o Programa de Promoção do Sucesso Educativo por exemplo, sugere que
com demasiada frequência o investimento nestes programas dificilmente terá
impacto significativo e consistente no sucesso educativo e algumas das
iniciativas acabam a compôr as revistas dos municípios.
Assim, sendo optimista e acreditando na existência de dispositivos de avaliação e
regulação do que é e será desenvolvido, julgo que o apoio ao desenvolvimento da prática
desportiva no âmbito da actividade escolar é essencial como essencial é também que a actividade desportiva seja um instrumento de educação inclusiva.
Retomo notas já expressas a propósito da divulgação no
início de Fevereiro da posição do Conselho Nacional das Associações de Professores
e de Profissionais de Educação Física alertando para que boa parte dos alunos
do 1 º ciclo, por razões de natureza diversa e apesar de algumas boas práticas
e iniciativas, não realiza regularmente actividades de educação física ou
desporto.
De entre as múltiplas referências ao comportamento de crianças e adolescentes, uma das mais frequentes talvez seja “Estas
crianças não páram” ou algo no mesmo sentido. Na verdade, apesar da frequência
da sua utilização, parece-me claramente desajustada pois, de facto, as crianças
não se mexem e, também por isso provavelmente ... "não páram".
Segundo o Relatório “Health at a Glance: Europe 2016” em
Portugal mais de uma em cada quatro crianças tem excesso de peso. Nas raparigas
ultrapassa os 30% e nos rapazes temos 25%.
Acresce que no que respeita à actividade física e
considerando a recomendação da OMS de uma hora diária de actividade física aos
11 anos só 16% das raparigas e 26% dos rapazes cumprem e aos 15 anos temos 5%
das raparigas e 18% dos rapazes.
Creio ainda de sublinhar que estudos realizados em Portugal
mostram que a obesidade infantil, um dos valores mais altos da UE, é já um
problema de saúde pública, implicando por exemplo o disparar de casos de
diabete tipo II em crianças.
Apesar de parecer uma birra ou teimosia acho sempre
importante sublinhar a importância que deve merecer a questão dos hábitos
alimentares e o combate ao sedentarismo, sobretudo nos mais novos.
Ainda no que respeita à actividade física, um trabalho da
Universidade de Coimbra divulgado em 2013 sublinhava, mais uma vez, o impacto
que o sedentarismo tem na saúde das crianças. Este estudo envolveu 17424
crianças entre os 3 e os 11 anos e mostrou a forte relação entre hábitos
fortemente sedentários, ver televisão por exemplo, e obesidade infantil e
óbvias consequências na saúde e bem-estar dos miúdos.
Um outro trabalho de 2012 da Faculdade de Motricidade Humana
envolvendo cerca de 3000 alunos que evidenciava o efeito positivo da actividade
física no rendimento escolar para além dos benefícios óbvios na saúde.
De registar ainda que apesar da simpatia do clima somos um
dos países com menor prática de actividades de ar livre.
De facto, o quotidiano de crianças e adolescentes está
excessivamente preenchido com actividades que solicitam pouca actividade
física, numa escola a tempo inteiro em que, apesar de boas práticas que
existem, passam horas sem fim em salas com actividades “fantásticas” sempre
sentados ou, quase, parados.
Em casa, o cenário é do mesmo tipo só que em frente de um
ecrã. Os estudos comprovam que o nível de actividade física de crianças e
adolescentes está francamente abaixo do desejável para a sua faixa etária
sendo, aliás, mais satisfatório em adultos e também baixo para os idosos. Por
outro lado, este é o equívoco a que me referia, instalou-se a “ideia” de que as
crianças e adolescentes não páram, são muito activas, até mesmo “hiperactivas”
pelo que os desejos de muitos pais e professores é que estejam mais “calmas”,
mais “sossegadas” e não tão “activas”, às vezes até se medicam para que se
aquietem.
Por isso e de uma vez por todas, que crianças e adolescentes
não parem, que as não envolvam e incentivem a actividade sedentária tantas
horas por dia e que ajudemos todos pais e comunidades a construir alternativas
que sejam atractivas para os tempos dos mais novos.
É uma questão de saúde, física e mental, para crianças e
adolescentes e, também, para os adultos que lidam com eles.
Sem comentários:
Enviar um comentário