terça-feira, 20 de agosto de 2019

TEMPOS DA VIDA


Acho que é inevitável. Sempre que mais um ano passa por nós, pensamos no tempo e nas alterações que se vão verificando na relação com ele. Sendo tempo de férias, repouso activo como lhe chamo, até o tempo é mais para pensar no tempo.
Quando era miúdo, jovem, há já muitos anos, tinha a sensação de que o tempo demorava muito tempo, demasiado tempo, a passar. Era um tempo de pressa, de cres-ser.  Lembro-me, por exemplo, do desejo de chegar rapidamente aos dois dígitos na idade, já não seria um “puto”, pensava eu.
Quando comecei a minha vida profissional e vida familiar própria, emergiu a dificuldade de transformar, organizar o tempo, tanto sobrava como faltava.
A partir de certa altura, não sei dizer qual, a gente sente, a relação com o tempo muda significativamente e fica algo entre o ambíguo e o paradoxo. Por um lado, sentimos que a velocidade do tempo é bem superior à do relógio, o amanhã é ontem, com tanto ainda por fazer. Quem trabalha e continua com uma enorme paixão pela educação ainda sente mais o quanto está sempre por fazer. Por outro lado, creio que começamos a ser capazes de assumir uma atitude de serenidade face às coisas da vida, ao tempo, que retira pressa e, apesar da Atenta Inquietude, nos dá brandura como se diz no meu Alentejo.
Este tempo velho também nos faz olhar para dentro ao olhar para trás e perceber o gozo de começarmos a atingir, do ponto de vista social, alguma inimputabilidade. Não se assustem, é que quando dizia ou fazia certas coisas aos vinte e poucos recolhia, frequentemente e no mínimo, um olhar reprovador. Actualmente, as mesmas afirmações ou comportamentos garantem-me um sorriso de condescendência e empatia, “já velho e como ele se porta ou fala”.
Outra enorme conquista do tempo velho é a possibilidade de contar histórias, histórias nossas, vividas, convividas ou … inventadas. No fundo acho que é isso que se espera e, talvez por essa razão, cada vez gosto mais de histórias.
Finalmente, chegando a este tempo velho, sabe bem uma viagem assim grande à beira de quem gostamos.
Pois então … que venham mais uns quantos.

1 comentário:

Rui Ferreira disse...

Como eu me revejo no dito... credo!