Cumprem-se hoje 90 anos do nascimento de José Afonso que
partiu há 32 anos. Caberia o lugar-comum de os Grandes não morrem, mas o Zeca
não iria gostar, não se dava bem com estatutos e muito menos de Grande. Mas na
verdade, o Zeca foi e continua Grande e os Grandes fazem sempre falta.
É certo que ficámos com a música, mais um lugar-comum,
quando se ouve é sempre a primeira vez. Mas ficámos sobretudo com a vida e com
o exemplo, Grande, naturalmente.
Um homem de uma probidade e generosidade espantosas e com um
voluntarismo generoso que contagiava. Diziam-no ingénuo, talvez fosse a
ingenuidade de que só as crianças e os puros são capazes e carregam.
O Zeca, gosto de recordar, foi professor enquanto o
deixaram. É que embora alguns não saibam, tenham esquecido ou queiram esquecer,
já tivemos, mesmo, censura e prisão por delito de opinião.
O Zeca haveria de gostar de algumas coisas que por aí andam,
há sempre gente solidária e generosa, mas espantar-se-ia com as nuvens que
pairam sobre estes tempos.
E mesmo nesta turbulência manhosa em que este mundo se
transformou, o Zeca continuaria a dizer "traz outro amigo também".
Trovas e cantigas muito belas
Afina a garganta meu cantor
Para não se apagar a chama
Que dá vida a noite inteira
Quando um homem
Se põe
A pensar
Só um pensamento
No momento
P’ra nos despertar
Seja bem-vindo quem vier por bem
Se alguém houver que não queira
Trá-lo contigo também
A gente ajuda
Havemos de ser mais
Eu bem sei
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