Muitas vezes aqui tenho referido
uma matéria que julgo merecer atenção pelo impacto que em muitas situações pode
ter na vida de algumas crianças, adolescentes e jovens, a pressão para a
excelência sendo que esta pressão se estende a actividades de diferente
natureza começando, naturalmente pelo desempenho escolar.
No Expresso encontra-se uma peça
que revela a existência nos Estados Unidos de um decisão tomada por muitos pais
de contratar “explicadores” de Fortnite para incrementar o nível de desempenho
dos seus filho procurando que eles atinjam não menos que a excelência, “O foco é treinar e ser um dos melhores no
jogo Fortnite. Perante as vozes que censuram este jeito de viver, o pai diz que
se fosse outra área, como piano ou representação, as reações seriam diferentes”,
com justificações de natureza social e económica, lê-se na peça.
É inquietante assistir como fruto dos
estilos de vida, de alterações nos valores e cultura se tem vindo a instalar de
mansinho em muitos pais, e também dentro das instituições educativas, uma
atitude e um discurso de exigência e de pressão para a excelência no desempenho
dos miúdos, centrados sobretudo nos resultados escolares mas extensível a todas
as actividades em que se envolvem, é preciso ser bom e ser bom a tudo. E também, vemos agora, no Fortnite.
A questão não tem, evidentemente,
a ver com a natural atitude de exigência mas um sim com a pressão muito forte
para a produção e alto nível de rendimento e cada vez mais cedo pois, supõe-se,
ganharão vantagens na construção de um futuro onde só “os melhores" terão um
bom lugar garantido.
Este clima de pressão para resultados
e a forma como o sistema educativo tem sobrevalorizado a medida contribui para
alimentar um ambiente educativo, escolar e familiar, competitivo e selectivo
que cria em muitas crianças e adolescentes uma pressão fortíssima para a excelência dos
resultados em todas as actividades. Uma outra consequência mais indirecta é a maior dificuldade de
estruturar climas inclusivos pois apesar de inclusão significar todos, os
alunos com maior dificuldade, qualquer que seja a sua natureza, ficarão ainda
mais vulneráveis e em maior risco de exclusão.
Acontece que algumas crianças,
por questões de maturidade ou funcionamento pessoal, suportam de forma menos
positiva esta pressão o que poderá gerar o risco de disfuncionamento, rejeição
escolar e, finalmente, insucesso, desistência e rejeição de novas experiências.
Este cenário de consequências negativas para alguns alunos pode ainda ser mais
grave como os estudos mostram em sistemas educativos bem mais competitivos que
o nosso.
A melhor forma de preparar os
miúdos para o futuro é cuidar bem deles no presente, desejavelmente sem faltas,
mas também sem excessos.
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