Dado o inexorável movimento dos dias cumpro hoje mais um
marco de uma estrada que já vai longa. A partir de hoje integro a tribo
dos “séniores” ou dos “idosos”. Vou ter que me habituar.
No entanto, prefiro recordar que na minha terra era costume,
creio que ainda é muito frequente em Portugal, referir que quando se celebra um
aniversário, se é "pequeno". Assim sendo, hoje sou
"pequeno", coisa que não é nada fácil imaginar e muito menos
conseguir, mas é mais amigável que “idoso”.
Embalado por essa ideia lembrei-me de quando era mesmo
pequeno, tentação que parece inevitável cada vez que ficamos mais velhos.
Lembrei-me de como brincava, ao que brincava e com quem
brincava, quase sempre na rua.
Depois lembrei-me de como brincava com o meu filho, quando
ele era pequeno, grandes viagens em grandes brincadeiras.
Agora brinco com os meus netos, são eles os pequenos. Muito
a gente se diverte. E havemos de nos divertir ainda mais a brincar. Palavra de
avô.
A este propósito e com já vos tenho dito e, certamente,
alguns estranharão, acho que por estes dias os miúdos brincam pouco.
Eu sei que os tempos são diferentes e os estilos de vida
mudaram significativamente. No entanto, não me parece que sejam razões
suficientes. A questão é, creio, de outra natureza.
As brincadeiras já não brincadeiras, passaram a chamar-se
actividades. E os miúdos têm muito pouco tempo para brincar, é quase todo
destinado a actividades, muitas actividades, que, dizem, são fantásticas, fazem
bem a tudo e mais alguma coisa, promovem competências extraordinárias e é
preciso ser excelente.
Deixem os miúdos brincar, faz-lhes bem, é mesmo a coisa mais
séria que fazem e, como sabem, é importante lidar desde pequeno com coisas
sérias.
Hoje não vai dar, é tempo de férias que também nos separam,
mas se fosse brincar com os meus netos ainda nos divertiríamos mais. É que hoje …
hoje sou pequeno, ainda melhor nos entenderíamos.
Fica para depois.
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