Aí está o produto sazonal que dá pelo nome de “rankings
escolares” nas suas diferentes declinações. Agora, 2018.
Apesar de continuar com dificuldade em defender a sua
bondade não tenho uma atitude fundamentalista face à sua construção, sobretudo
considerando a evolução que se tem verificado nos últimos anos, quer na
disponibilização de informação por parte do ME para além dos “meros” resultados
da avaliação externa, quer na forma como essa informação é tratada e divulgada
por diferentes entidades.
E que mostram, ou não, os rankings?
Mostram que genericamente as escolas privadas apresentam
melhores resultados e que também existem escolas privadas com resultados mais
baixos.
Mostram que a maioria das escolas que maior discrepância
apresenta entre a avaliação externa e a avaliação interna, sendo esta
"inflacionada", são privadas sendo algumas persistentes na tarefa.
Ao contrário, mostram das que se revelam mais exigentes a
maioria é do ensino público.
Mostram que existem escolas públicas com bons resultados e
escolas públicas com resultados menos bons.
Mostram que existem escolas que face ao contexto
sociodemográfico que servem conseguem bons resultados ou, pelo menos, progresso
no trajecto dos alunos e que existem escolas públicas que ainda não conseguem
contrariar o destino de muitos dos seus alunos.
Mostram que o nível de retenção é elevado e que o recurso à
retenção não faz subir os resultados dos alunos.
Mostram que a menor dimensão das turmas pode em escolas em
contextos menos favoráveis promover a melhoria de resultados.
Mostram que a tradição ainda é o que era, pais (mães) mais
escolarizados, têm, potencialmente, filhos com melhores resultados.
Mostram que as escolas públicas são as que mais progresso promovem nos alunos.
Mostram que nas escolas com melhores resultados, em regra, são as que têm menos alunos abrangidos pela Acção Social Escolar.
Mostram que nas escolas com melhores resultados, em regra, são as que têm menos alunos abrangidos pela Acção Social Escolar.
Mostram que a escola, os professores, fazem a diferença.
Mostram ainda que se continua a falar de “melhores escolas”
e “piores escolas” enviesando as várias leituras possíveis. Aliás, mostram que existem escolas que só nesta altura merecem alguma atenção, são as últimas dos vários rankings. No ano passado por esta altura dizia a Directora da Escola de Santo António
no Barreiro “Estou cansada que só liguem nestas alturas. Os rankings só servem
para sistematizar as escolas. São muito desmotivantes para quem faz um enorme
esforço” (Expresso). E eu sei que fazem mesmo.
Mostram que …
Enfim, os rankings mostram tudo, só não mostram o que se
fará a seguir com a informação que os rankings mostram. Na verdade, também não
mostram o que não se pode medir mas se pode avaliar e que é tão essencial como
o que se mede.
Deixem-me acrescentar que também mostram que “Há sempre um testo para cada panela, costuma
dizer o povo. E eu acredito que também há um lugar para cada aluno na escola.
Temos é de encontrar e dar-lhes as coisas que lhes fazem sentido”, Jorge
Castro. Escola Profissional de Aveiro Bem avaliada entre as escolas
profissionais. (Expresso)
Também dizem que “Sabrosa
é uma zona relativamente pobre e muitos dos nossos alunos não têm sucesso
porque têm debilidades, sejam familiares, financeiras ou outras. Temos alunos
que se perdem ‘entre os pingos da chuva’”, Adelino Tomé, director do
agrupamento Miguel Torga em Sabrosa. “Ter
uma estrutura atenta permite perceber o que se passa com cada aluno e conseguir
agarrá-lo. Isso até pode não se traduzir em notas muito boas, mas numa
melhoria. Sei que nos falta chegar aos resultados positivos, mas temos chegado
ao resto.” É uma Escola das que mais consegue promover progresso nos alunos
apesar de ainda se manter “mal classificada no ranking” (Expresso)
Também mostram que “Milagres
não há, é tudo fruto do trabalho”, “Não podemos preparar os alunos apenas para
os exames. Devemos prepará-los para a vida”, Fernando Souto professor de
Filosofia no Agrupamento Eça de Queirós, a única escola pública nas primeiras
posições na classificação dos exames quer no básico quer no secundário. O
Director, Eduardo Lemos afirma, “Não queremos ter salas muito bonitas,
pufes... Isso é conversa fiada! A flexibilidade curricular é zero, porque
preferimos a solidez. A base é a disciplina”. (Expresso)
Ainda mostram que (Expresso) “A Escola Básica do Lumiar é um dos estabelecimentos de ensino que
aparecem repetidamente nos últimos lugares dos rankings. Entalada entre bairros
sociais, a escola que tem o maior número de alunos de etnia cigana em Lisboa e
que se orgulha de não recusar nenhuma matrícula não foi além de uma média de
37% e está na 6ª pior posição da tabela que ordena as quase mil básicas
públicas e privadas de todo o país com base nas notas dos exames.”
Também se vê nos rankings que nesta escola “Quando estão dois graus cá fora e as salas de aulas têm janelas
partidas e não têm aquecimento, que motivação podem ter estes alunos num sítio
onde nem sequer estão confortáveis? Eles sentem que já foram abandonados, às
vezes até pela família, que a vida desinvestiu neles, que não prestam e que são
sempre os últimos. E depois vêem o estado da escola. Não têm um único local
confortável onde estar”, Directora do Agrupamento, Maria Caldeira.
E mostram que a Escola Básica do Bairro Padre Cruz tem
quatro em cada cinco alunos com apoio social e a escolaridade média dos pais é
de sete anos. Diz uma docente da escola, “Às
vezes temos de ser mais pais, avós, tios do que propriamente professores.
Fazemos um bocadinho do que os pais não têm capacidade para fazer, ou não sabem
ou não querem: o saber estar, ouvir, saber viver em sociedade” (Público)
“Este salto é sinal
que as medidas estão a funcionar “uma vez por semana os alunos trabalham em
grupos organizados consoante o nível em que se encontram, no final do ano há
aulas facultativas”, Director da EBS
de Vilela, Paredes que subiu 786 posições, a segunda que mais subiu. (Público)
Também podemos ver pelos rankings que “No ano passado tivemos 34 procedimentos disciplinares. São alunos muito
traumatizados, agressivos, pouco empenhados, empurrados de escola em escola
porque ninguém os quer” Directora da EB D. Manuel I de Pernes que acrescenta “a escola procura cativá-los com o pequeno almoço e o lanche, mas também
com propostas alternativas.” A escola baixou significativamente no ranking
face ao ano anterior.
Também mostram que “Não
levar para casa o que se pode fazer na escola”, “nas turmas com maiores dificuldades estão dois professores em cada sala
de aula para que possam acompanhar os alunos de uma forma mais próxima e esclarecer
dúvidas”, “Os professores conhecem as
necessidades dos alunos e preocupam-se em dar-lhes resposta”, e a “principal”
“Nesta escola não há alunos dados como
perdidos”, são ideias que informam a EB Dr, Carlos Pinto Ferreira, Vila do
Conde, que integra o contexto 3 (mais desfavorecido) e é a única escola pública
nas cinco primeiras na ordenação pelo “indicador global de sucesso” (Público)
Também se percebe pelos rankings que “Criámos mais instrumentos de avaliação para que não seja um só teste a
ditar o destino dos alunos. Aumentámos as ocasiões em que os alunos podem
repetir os módulos que tenham ficado em atraso, para que não os acumulem, e os
critérios de avaliação. Valorizando as componentes do saber fazer, essencial no
ensino profissional, e do saber estar”, Directora da Escola Profissional de
Desenvolvimento Rural de Alter do Chão com um elevado nível de sucesso e
empregabilidade dos seus alunos. (Público)
E mostram finalmente que “Assim, passados 20 anos, a pergunta impõe-se onde estão as evidências
de que a publicação dos rankings tenha contribuído para a melhoria do sistema
educativo?” Gil Nata, Tiago Neves, Centro de Investigação e Intervenção
Educativas da U. do Porto (Público)
Uma nota final, eu sei que é o mercado a funcionar mas
continuo embaraçado com a inserção de publicidade a escolas privadas e ao
ensino privado nos suplementos dos jornais dedicados aos rankings.
Post Scriptum 1 - A propósito de rankings - Gert Biesta da
Universidade Stirling numa obra notável, "Good Education in a Age of Measurement - Ethics, Politics, Democracy",
afirma que uma obsessão centrada na medida, assenta na gestão continuada de uma
dúvida, "medimos o que valorizamos
ou valorizamos o que medimos?"
Post Scriptum 2 – Por onde andam nos rankings os alunos com
necessidades educativas especiais? (desculpem o termo não inovador dentro do novo paradigma mas ainda não me habituei às novas "não categorias" como "adicionais", "selectivas" ou "adicionais"). Provavelmente à espera da operacionalização
de um novo indicador-chave da avaliação das escolas, a inclusão.
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