Sucedem-se os trágicos episódios de
violência sobre as mulheres. Só no mês de Janeiro morreram nove mulheres em
contextos de violência doméstica.
O mundo da violência doméstica é
bem mais denso e grave do que a realidade que conhecemos, ou seja, aquilo que
se conhece, apesar de recorrentemente termos notícias de casos extremos, é
"apenas" a parte que fica visível de um mundo escuro que esconde
muitas mais situações que diariamente ocorrem numa casa perto de si.
Por outro lado, para além da
gravidade e frequência com que continuam a acontecer episódios trágicos de
violência doméstica é ainda inquietante o facto de que alguns estudos realizados
em Portugal evidenciam um elevado índice de violência presente nas relações
amorosas entre gente mais nova mesmo quando mais qualificada. Muitos dos
intervenientes remetem para um perturbador entendimento de normalidade o
recurso a comportamentos que claramente configuram agressividade e abuso ou
mesmo violência.
Importa ainda combater de forma
mais eficaz o sentimento de impunidade instalado, as condenações são bastante
menos que os casos reportados e comprovados, bem como alguma “resignação” ou
“tolerância” das vítimas face à situação de dependência que sentem
relativamente ao parceiro, à percepção de eventual vazio de alternativas à
separação ou a uma falsa ideia de protecção dos filhos que as mantém num espaço
de tortura e sofrimento.
Nesta perspectiva e como tantas
vezes tenho dito, torna-se fundamental a existência de dispositivos de
avaliação de risco e de apoio como instituições de acolhimento acessíveis para
casos mais graves e, naturalmente, um sistema de justiça eficaz e célere.
Torna-se ainda necessário que nos
processos de educação e formação dos mais novos possamos desenvolver esforços
que alterem quadros de valores, de cultura e de comportamentos nas relações que minimizem o
cenário negro de violência doméstica em que vivemos. A educação e o desenvolvimento que alimenta constitui a ferramenta de mudança mais potente de que dispomos.
A omissão ou desvalorização desta
mudança é a alimentação de um sistema de valores que ainda “legitima” a
violência nas relações amorosas, que a entende como “normal”.
Tudo isto tem como efeito a
continuidade dos graves episódios de violência que regularmente se conhecem,
muitos deles com fim trágico.
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