Numa interessante estratégia de
comunicação, através de notas à comunicação social, o ME continua a divulgar
informação avulsa sobre o desenho do novo ciclo de avaliação das escolas a
iniciar em Abril. Desta vez ficámos a saber que o dispositivo de avaliação
incluirá a observação de aulas, ideia que, aliás, não é nova.
Já sabíamos que a “inclusão” será
um “indicador-chave” da avaliação através de uma “métrica qualitativa” que
ainda não conhecemos mas assente ao que parece na análise dos “percursos
directos de sucesso”. Também se sabe que a avaliação das escolas envolverá as
escolas profissionais privadas e os estabelecimentos de ensino privado com
contrato com o ME sendo que outras instituições privadas também podem ser
avaliadas por sua iniciativa.
Depois de ter sido divulgada a
mudança na orientação de que para a função de inspector ser seria necessário
ser professor, também sabemos que as equipas de avaliação serão constituídas
por inspectores e “peritos externos” seleccionados por instituições de ensino
Algumas notas a partir de
reflexões anteriores, algumas bem recentes.
A avaliação é, seguramente, uma
ferramenta de promoção e regulação da qualidade do trabalho desenvolvido o que
a torna imprescindível nos vários patamares do sistema. Em Portugal, no
universo da educação, a avaliação, seja de alunos, de professores ou das
escolas tem sido um terreno de enorme instabilidade, seja
pela incoerência e incompetência de diferentes iniciativas do MEC, seja pela
contaminação da normal conflitualidade a que acrescem interesses de
agendas diferenciadas. Tal contexto tem-se traduzido numa volatilidade
espantosa de decisões, algumas inaceitáveis como a sinistra PACC para avaliar
Conhecimentos e Capacidades para o acesso à carreira de professor, mudanças e
alterações que nem tempo têm se ser avaliadas antes de ser novamente ...
alteradas e sempre recebidas reactivamente.
Gostava também que o novo ciclo
avaliativo pudesse desburocratizar a forma como a avaliação interna e externa é
realizada, altamente burocratizada, solicitando uma carga enorme de informação,
extensa, redundante e parte dela inútil, da forma que é requerida. A produção
desta informação consome centenas de horas de trabalho a muitos docentes e que
são retiradas à essência do seu trabalho.
O nível de informação solicitada
e as regras impostas de funcionamento e organização mostra, de facto, um
sistema altamente centralizado, burocratizado e com a tentação de manter um
controlo absoluto sobre a organização e funcionamento das escolas.
Integrar a observação das aulas nos
dispositivos de avaliação das escolas, como, aliás e de forma alargada na
avaliação de professores importante e positivo. Aliás, na grande maioria dos
sistemas educativos integrados na OCDE é isso que se passa em matéria de
avaliação de escolas.
Recordo um Relatório da rede
Eurydice, "Assuring Quality in Education — Policies and Approaches to
School Evaluation in Europe" de 2015 sobre a avaliação da qualidade das
escolas e dos modelos e dispositivos utilizados em 31 sistemas educativos
europeus, todos os da UE bem como Islândia, Noruega, Turquia e Macedónia e no
qual se verificava que Portugal é um dos três países que não recorre a esta
metodologia.
É verdade que matéria é mais uma
das muitas em que a polémica é forte. Recordem-se as discussões sobre a
observação de aulas no contexto da avaliação de professores e os discursos,
práticas e equívocos instalados.
Neste cenário parece importante
que com tempo e com discussão participada se construísse o dispositivo de
avaliação incluindo a observação de aulas, as equipas avaliadoras, o método, os
conteúdos em avaliação, os critérios a utilizar, a forma como são consideradas
as tipologias das escolas face a população e contexto, dimensão e características dos grupos/turmas, etc.
Finalmente e como escrevi há dias, a avaliação, sendo imprescindível
na promoção da qualidade é tanto mais eficaz nessa função quanto mais
competente e simples possa ser. A avaliação também não pode servir para
“certificar” ou “validar” aquilo que já “sabemos” ou “queremos” encontrar para
"fabricar" sucesso. Temos tido exemplos estimulantes nesta matéria.
Aguardemos para ver ou pela
próxima nota à comunicação social.
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