Nas escolas, em todas as escolas,
existe um grupo de miúdos, sobretudo na fase da pré-adolescência e adolescência, a que podemos
chamar de Errantes, não são, naturalmente, os miúdos que erram no que fazem,
são aqueles miúdos que erram pela vida e pela escola numa espécie de deriva sem
destino sonhado e, muito menos, com destino desejado.
Parece relativamente fácil
identificar os errantes, quase sempre não têm boas notas, embora alguns,
poucos, as consigam, quase sempre mostram-nos o seu Errante estado com
comportamentos que nos incomodam e embaraçam, de que muitos deles também não
gostam, mas que fazem questão de assumir, numa tentativa, perante si próprios,
de esconder a condição de Errante e de ganharem uma identidade. Existem também
alguns Errantes que parecem transparentes, transparecem tristeza, mal damos por
eles de tão invisíveis.
Estes Errantes estragam as
estatísticas do sucesso e da qualidade, contribuem para as estatísticas dos
problemas e, por isso, não são desejados, sobretudo nas escolas muito boas, que
não gostam de Errantes, preferem os Destinados, ou seja, os miúdos que já no
presente carregam o destino que lhes sonharam e que eles assumem, desejando ou
não.
Os Errantes que agora estão na
escola, tal como aconteceu com a maioria dos Errantes que já por lá andaram,
serão os Errantes da vida, seja lá o que for a vida que os espera, porque eles
não esperam a vida. Imaginam apenas o amanhã, que ainda assim e como se costuma
dizer, já é longe demais. E esse amanhã imaginado é rigorosamente igual ao hoje
vivido.
Se nos abeirarmos dos Errantes, o
que nem sempre conseguimos, sabemos, podemos ou queremos, fazer talvez possamos
perceber como é difícil a história dos Errantes. Ninguém gosta de andar
perdido.
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